O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, defendeu nesta quinta-feira, 26, a “interrupção completa” das operações de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, alegando que o Hamas assumiu o controle dos bens e alimentos distribuídos.
Chefe do Otzma Yehudit (“Força Judaica”), um dos partidos da coalizão de extrema direita no governo, ele afirmou que “exigirá” que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, submeta ao gabinete do país uma nova votação sobre a questão da introdução da ajuda a Gaza.
“A ajuda humanitária que atualmente entra em Gaza é uma vergonha absoluta. O que é necessário em Gaza não é uma interrupção temporária da ajuda ‘humanitária’, mas uma interrupção completa”, escreveu ele em publicação no X (antigo Twitter). “Eu alertei e alertei, e infelizmente fui o único que votou há um mês e meio contra a introdução da ajuda, quando ficou claro para mim que isso daria fôlego ao Hamas.”
Ele acrescentou: “O Hamas está assumindo o controle das quantidades de alimentos e bens que contribuem para sua sobrevivência.”
Ben-Gvir argumentou ainda que paralisar as entregas de alimentos, medicamentos e água para os palestinos levará Israel a uma “vitória rápida” contra o Hamas.
As declarações do ministro vêm depois do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, Eyal Zamir, afirmar que seus militares “fecharam um capítulo significativo” no Irã, após um conflito que durou doze dias, e seu foco agora se voltará à Faixa de Gaza “para trazer os reféns de volta e derrubar o regime do Hamas”. Acredita-se que ainda haja cerca de sessenta pessoas em posse do grupo palestino, metade das quais ainda estaria viva.
Crise humanitária aguda
A escassez de alimentos em Gaza tornou-se aguda com um cerco rígido de Israel a todos os suprimentos ao longo de março e abril. A população local, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou um relatório em maio da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
Desde que o bloqueio foi parcialmente levantado no mês passado, as Nações Unidas têm tentado enviar itens básicos para o enclave, mas com grandes obstáculos, incluindo estradas congestionadas, ataques aéreos contínuos e crescentes restrições por parte dos militares israelenses.
Nesta semana, as Nações Unidas condenaram Israel pelo “uso de alimentos como armas”, o que definiram como um “crime de guerra”. O alerta ocorreu em meio a incidentes recorrentes nos quais as forças israelenses abriram fogo perto de centros de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), deixando centenas de mortos. O grupo privado é apoiado pelos Estados Unidos e Israel e substituiu operações das Nações Unidas no enclave, mas tem recebido cada vez mais críticas por sua ineficácia.
“O mecanismo militarizado de assistência humanitária de Israel (em referência à GHF) está em contradição com os padrões internacionais de distribuição de ajuda”, disse o porta-voz do escritório de direitos humanos das Nações Unidas, Thameen Al-Kheetan. “A transformação de alimentos para civis em armas, além de restringir ou impedir seu acesso a serviços de suporte à vida, constitui um crime de guerra.”
O porta-voz das Nações Unidas também denunciou que “os militares israelenses bombardearam e atiraram em palestinos que tentavam chegar aos pontos de distribuição, causando muitas mortes”. Ele disse que, até o momento, “mais de 410 palestinos foram mortos como resultado, (enquanto) pelo menos outros 93 também foram supostamente mortos pelo exército israelense enquanto tentavam se aproximar dos poucos comboios de ajuda da ONU e de outras organizações humanitárias“. Pelo menos 3 mil palestinos ficaram feridos nesses incidentes, acrescentou Al-Kheetan.