A reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) realizada encerrada nesta quarta-feira, 25, em Haia, na Holanda, resultou em um compromisso dos países-membros de aumentar os seus gastos militares para 5% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2035. A decisão, que eleva significativamente o patamar anterior de 2%, reflete a crescente preocupação dos aliados ocidentais diante das ameaças representadas pela Rússia e a necessidade de a Europa assumir maior protagonismo em sua própria segurança. A novidade é resultado da pressão do presidente americano Donald Trump e da crescente incerteza quanto ao compromisso dos Estados Unidos com a defesa coletiva dos países que fazem parte da aliança.
O novo objetivo de gasto foi apresentado como uma vitória tanto para Trump quanto para o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte. Trump, crítico histórico do que considerava um subinvestimento europeu em defesa, chegou a colocar em dúvida o cumprimento do Artigo 5º — a cláusula de defesa mútua da aliança — caso os europeus não aumentassem suas contribuições. Após negociações, Trump declarou que saiu do encontro com uma visão diferente, reconhecendo o esforço dos aliados e reafirmando, ainda que de forma ambígua, o compromisso americano.
O acordo prevê que 3,5% do PIB sejam destinados a gastos centrais de defesa, como pessoal e armamentos, enquanto 1,5% será aplicado em áreas correlatas, incluindo infraestrutura, cibersegurança e adaptação de redes logísticas para uso militar. Essa reestruturação dos investimentos não só reforça a capacidade militar do continente, mas também promete impulsionar a indústria de defesa europeia, com potencial para criar milhões de empregos e estimular setores de alta tecnologia, conforme analisado por especialistas econômicos.
No entanto, a implementação do novo patamar de gastos não é consensual. Países como Espanha e Eslováquia consideram inviável comprometer 5% do seu PIB em defesa, especialmente diante de elevados níveis de endividamento público e demandas sociais internas. A Espanha, em particular, afirmou que pode cumprir suas obrigações militares com um percentual bem inferior, provocando críticas e ameaças de possíveis retaliações comerciais por parte de Trump.
A decisão da OTAN ocorre em um momento em que a Europa busca reduzir sua dependência estratégica dos Estados Unidos, especialmente após sinais de retração americana em compromissos internacionais. O aumento dos gastos próprios em defesa pode funcionar como um estímulo à economia europeia, ao fomentar inovação, modernização industrial e cadeias produtivas locais, ao mesmo tempo em que fortalecerá a autonomia estratégica do bloco diante de ameaças externas.
Como foi antecipado nesta reportagem de VEJA, o aumento dos gastos com defesa pode funcionar como um importante estímulo para a economia europeia, que enfrenta um cenário de estagnação prolongada. O investimento bilionário previsto até 2035 tende a aquecer setores industriais estratégicos, como o de tecnologia de ponta, engenharia e produção de equipamentos militares, gerando empregos qualificados e fortalecendo cadeias produtivas locais. Esse movimento pode ainda impulsionar a inovação, já que parte significativa dos recursos será direcionada para áreas como cibersegurança e infraestrutura, com potencial de transbordamento para outros segmentos da economia civil. Um estudo do Instituto Kiel para a Economia Mundial prevê que a cada 300 bilhões de euros injetados em pesquisa e produção de tecnologia militar haverá um incremento de até 1,5% no PIB da UE.
Ou seja, o novo compromisso da OTAN representa tanto uma resposta urgente ao cenário geopolítico volátil — marcado pela guerra na Ucrânia e tensões com Moscou — quanto uma aposta de longo prazo na revitalização econômica e tecnológica do continente. Resta saber se todos os países conseguirão cumprir as metas estabelecidas e como o aumento dos gastos militares impactará o equilíbrio fiscal e social europeu nos próximos anos.
Como a decisão de gastar 5% do PIB em defesa pode alavancar economia europeia
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