Durante escavações em 2010 para a construção de um estacionamento subterrâneo no terreno do antigo World Trade Center, em Nova York, operários se depararam com uma descoberta improvável: os restos bem preservados de uma embarcação de madeira, enterrada há mais de dois séculos.
O barco estava a 7 metros de profundidade, no que um dia foi o limite do rio Hudson. Parte da estrutura havia sido cortada por uma parede de contenção moderna, mas arqueólogos conseguiram recuperar cerca de 9 metros do casco, incluindo seções da popa e do centro da embarcação. Um pedaço do lado da proa foi encontrado no ano seguinte, do outro lado da parede.
Após a remoção, as peças — mais de 600 no total — foram enviadas ao Centro de Arqueologia Marítima e Conservação da Universidade Texas A&M, onde passaram por um longo processo de escaneamento 3D, conservação em fluido químico e secagem em câmara especial.

Reconstrução em museu aberto ao público
Quinze anos após o achado, o barco está sendo parcialmente reconstruído no Museu do Estado de Nova York, em Albany, onde ocupará uma exposição permanente. A remontagem acontece diante dos visitantes: os fragmentos estão dispostos no chão como peças de um enorme quebra-cabeça, e a estrutura vai tomando forma aos poucos.

Os responsáveis pelo trabalho acreditam que se trata de um gunboat, um barco armado com canhão construído apressadamente no verão de 1775, no início da Guerra da Independência, para proteger a cidade da Filadélfia. A análise da madeira indica que as árvores usadas foram cortadas na região da Filadélfia no início dos anos 1770.
A construção parece ter sido feita com pressa: os pedaços são irregulares, com nós na madeira, e presos com pregos de ferro — material que se deteriora mais rapidamente com a ação da água salgada. Estima-se que o barco comportava 30 homens e era equipado com canhões na parte frontal.
Um enigma náutico ainda sem resposta
Apesar das evidências de origem, o percurso completo do barco até Manhattan ainda é um mistério. Registros históricos sugerem que uma das 13 embarcações construídas para defender a Filadélfia foi capturada pelos britânicos — e há pistas de que esta possa ter sido usada por tropas inimigas: um botão de uniforme britânico com o número “52”, possivelmente ligado ao 52º Regimento de Infantaria do exército britânico, foi encontrado entre os destroços.
Há também sinais de que a embarcação navegou em águas mais quentes, como o Caribe, devido a danos provocados por moluscos perfuradores de madeira que não vivem em regiões frias. O que se sabe é que, por volta da década de 1790, ela já havia sido desmontada e coberta por aterros que ampliaram a ilha de Manhattan.
A reconstrução está prevista para terminar ainda este mês. Depois disso, a embarcação será mantida em exibição — como um raro vestígio físico de um capítulo decisivo da história dos Estados Unidos.