A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil reforçou nesta quarta-feira, 25, medidas implementadas pelo governo americano para monitoramento de redes sociais de quem solicitar visto para estudar no país.
“De acordo com novas diretrizes, realizaremos uma verificação abrangente e minuciosa, incluindo a análise da presença on-line de todos os solicitantes de vistos de estudante e de intercâmbio”, diz o texto. “Para viabilizar essa verificação, todos os solicitantes de visto de estudante (F, M e J) deverão ajustar as configurações de privacidade de seus perfis de mídias sociais para o modo ‘público’”.
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Segundo a embaixada, o agendamento de entrevistas para estudantes será retomado “em breve”.
Após cerca de três semanas de pausa, o Departamento de Estado informou na semana passada a volta do processo de solicitação de vistos para estudantes estrangeiros, já citando a obrigatoriedade do desbloqueio de contas em redes sociais.
Em comunicado, o departamento afirmou que novos candidatos que se recusarem a definir suas contas em redes sociais como “públicas”, para que elas sejam analisadas, podem ser rejeitados. A recusa seria entendida, segundo o governo, como uma tentativa de burlar a exigência ou ocultar atividades online.
“Sob as novas diretrizes, os funcionários consulares conduzirão uma verificação abrangente e completa de todos os candidatos a estudantes e visitantes de intercâmbio”, afirmou o departamento em um comunicado. “Para facilitar essa verificação”, os candidatos “serão solicitados a ajustar as configurações de privacidade de todos os seus perfis de mídia social para ‘público’”.
O agendamento de entrevistas e emissão de visto para estudantes estrangeiros havia sido suspenso em 27 de maio, como parte de um projeto que, segundo a Casa Branca, teria objetivo de impedir que cidadãos “indesejáveis” entrem em território americano ou lidem com áreas consideradas sensíveis. A decisão também se deu em meio à queda de braço do governo republicano com a Universidade Harvard, que foi proibida a princípio de matricular alunos internacionais por supostamente acobertar casos de antissemitismo e fomentar discriminação racial. O bloqueio a Harvard, no entanto, foi revertido temporariamente pela Justiça dos EUA.
A ordem demonstra o endurecimento do processo de triagem dos EUA, que passou a analisar a partir de março se estudantes participaram de protestos pró-Palestina em campi universitários. Os agentes passaram a ser obrigados a verificar as redes sociais dos aplicantes de visto em busca de “atividades terroristas ou a uma organização terrorista”, revelou um telegrama obtido pelo jornal britânico The Guardian na época.
“Se você me disser que está vindo para os Estados Unidos para liderar cruzadas em campi universitários, tomar bibliotecas e tentar incendiar prédios… não vamos lhe dar um visto”, disse Rubio em uma audiência do Comitê de Relações Exteriores do Senado em 20 de maio. Mas, segundo o portal americano Politico, autoridades do Departamento de Estado consideraram vagas as orientações anteriores sobre o que deve ser monitorado, como, por exemplo, se a publicação de uma foto de uma bandeira palestina nas redes sociais deveria ser sinalizada.
Durante o ano letivo de 2023-2024, o número de estudantes internacionais em instituições americanas atingiu o recorde histórico de 1,13 milhão, de acordo com relatório anual do Instituto de Educação Internacional (IIE) e do Departamento de Estado dos EUA. O número representa um aumento de 6,6% no número de estudantes internacionais matriculados em universidades americanas em relação ao ano anterior.
“Ao querer impor filtro ideológico às universidades, o governo atropela a Primeira Emenda e a liberdade de expressão que ela tão radicalmente protege”, disse a VEJA Lee Bollinger, uma das mais respeitadas autoridades no assunto, que por vinte anos ocupou a cadeira de reitor em Columbia. Segundo ele, nem mesmo nos sombrios tempos do macarthismo, na década de 1950, a perseguição ao livre pensar teve a envergadura de agora. “A questão hoje é que não se trata da ação de um senador, como Joseph McCarthy, mas de um Executivo em pleno poder, punindo opositores e instituições por seus pontos de vista”, diz.