Funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aprovaram nesta terça-feira, 24, em resposta à crise institucional vivida pelo órgão, o indicativo de greve da categoria e a propositura de uma ação civil pública, com pedido de liminar para afastar três delegados que compõem a atual direção da Abin, o que inclui o diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, segundo nota da União dos Profissionais de Inteligência de Estado (Intelis).
Entre os servidores, relatos expressaram indignação com as denúncias envolvendo a cúpula da agência, que resultaram em indiciamentos e foram classificadas como “graves”, “nojentas” e “inaceitáveis”. Durante o governo de Jair Bolsonaro, segundo a PF, havia uma “Abin paralela” para espionar desafetos do governo. Entre os indiciados está o atual diretor-geral da Abin, indicado e mantido no cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva mesmo após a conclusão da investigação. Ele foi apontado pela PF como responsável por obstrução da investigação, prevaricação e coação no curso do processo — o que ele nega.
De acordo com a Intelis, a percepção dominante foi a de que a situação chegou ao limite. “É hora de dar um basta. Não há mais o que esperar. É nossa obrigação defender a instituição a qualquer custo”, afirmou um dos participantes. Os servidores também cobram maior diálogo com o governo e citaram outros problemas vividos pela agência, como acusações de assédio institucional, vazamentos de dados sigilosos de agentes durante apurações internas, desvalorização da categoria, ausência de propostas legislativas, cortes orçamentários e a recorrência de viagens internacionais da diretoria.
“Diante da complexidade do cenário, foi criado um comitê de crise com cinco voluntários para apoiar a Diretoria Executiva da entidade nas articulações futuras. A Intelis também pretende intensificar o diálogo com a sociedade e a imprensa para ampliar a visibilidade da situação e defender o papel estratégico da inteligência de Estado no país”, afirma a nota da entidade.
Com o indicativo de greve aprovado, a Intelis apresentará um conjunto de reivindicações formais. Caso não haja resposta satisfatória dentro do prazo estipulado, uma nova assembleia será convocada para deliberar sobre ações mais incisivas, como a adoção de operação padrão e a deflagração de uma paralisação. Na nota, a categoria reforçou que este “é um momento decisivo para a defesa da legalidade, da segurança institucional e da valorização dos servidores públicos da inteligência”.