Fenômeno da Netflix, Round 6, chega ao fim na próxima sexta-feira, 27, quando a terceira e última temporada do hit global chega à plataforma. Diferentemente dos dramas coreanos de romance (k-dramas) que tomaram o serviço de streaming e são conhecidos por suas histórias reconfortantes, Round 6 surgiu com o propósito de expor e criticar as condições de vida precárias enfrentadas por diferentes porções da sociedade sul-coreana — um outro lado do país cujo soft power contribui para que se tenha uma visão idealizada sobre.
Agora, em 2025, a trajetória do benevolente Gi-hun (Lee Jung-jae) contra a organização que realiza jogos mortais em nome de uma premiação bilionária chega ao fim, não sem antes causar consequências desastrosas para ele mesmo. A nova temporada deve ainda trazer o desfecho de personagens secundários importantes, cujas histórias não tiveram o aprofundamento necessário na temporada anterior.
É o caso de No-eul (Park Gyu-young), uma norte-coreana que acaba entrando para a organização do jogo sob razões desconhecidas. Há ainda Hyun-ju (Park Sung-hoon), uma personagem transsexual que se mostra uma importante liderança durante os jogos. Personagens como essas se encontram no ponto de serem minorias crescentes na Coreia do Sul, uma clara inspiração do diretor e criador da série Hwang Dong-Hyuk, 54, conforme explicou ele em conversa com a VEJA.
Confira:
O senhor inclui personagens norte-coreanos em Round 6 desde a primeira temporada. Na segunda, somos apresentados a uma personagem da Coreia do Norte que ocupa uma posição de poder dentro do jogo. Qual o sentido de ter personagens como esses na série? Quando você pensa em alguns dos grupos minoritários que existem na sociedade coreana, um deles sendo também um personagem na primeira temporada, existem os trabalhadores estrangeiros na Coreia e também os desertores norte-coreanos. Este é um grupo que é minoria na Coreia, que tem a possibilidade de se tornar maior no futuro. Na primeira temporada, você vê Sae-Byeok (Jung Ho-yeon). Ela era uma jogadora e seu nome se traduz como “amanhecer”, no inglês. Muito parecido com seu nome, ela é alguém que representava a esperança e uma forte vontade de viver. E então, na segunda temporada, você conhece No-eul, cujo nome se traduz como “pôr do sol”. É um pouco o oposto do espectro quando você a compara com Sae-Byeok. Toda a esperança dela se foi. Ela não é uma jogadora, mas, paradoxalmente, ela é parte da organização do jogo. Eu queria criar um contraste gritante entre as duas, um contraste onde elas vêm de origens semelhantes e, ainda assim, levam vidas muito diferentes e têm objetivos muito diferentes.
Essa história trata de temas universais, como a desigualdade social e a miséria. No entanto, se fosse feita em um país diferente, certamente teria elementos novos e característicos daquele território. Sendo assim, quais são as questões particulares que a Coreia do Sul tem e que o motivaram a escrever Round 6? Como muitas pessoas sabem, com a Guerra da Coreia em 1950, fomos um país que realmente teve que começar do zero, das cinzas da guerra. Em tão pouco tempo, nos reerguemos dessas cinzas, quase como se tivéssemos conseguido construir um prédio de 100 andares do nada. Nos tornamos parte do que gostamos de chamar de primeiro mundo, provavelmente entre os 10 principais países em termos de impacto econômico ou volume de comércio. E esse rápido crescimento também traz suas próprias sombras e efeitos colaterais. Acho que esses efeitos colaterais de um crescimento econômico tão rápido são mais evidentes, mais conspícuos e óbvios na sociedade coreana.
Na segunda temporada, temos um retrato de uma personagem transsexual, algo quase que inédito em produções sul-coreanas. Por que quis trazer esse tópico pra história? Pode parecer que não se vê muitos personagens trans, mas na Coreia, na verdade, temos mais celebridades ou pessoas transgênero nas telas hoje em dia. Eu queria retratar certos grupos minoritários dentro da sociedade através de Round 6, como a comunidade LGBTQIA+, que é crescente na Coreia. No entanto, devido à perspectiva conservadora da sociedade, eles tendem a ser ainda muito marginalizados. Eu queria representar uma personagem da comunidade LGBTQIA+ que, apesar de toda a marginalização, é alguém que tem um forte senso de humanidade e coragem. Eu quis mostrar isso através desta personagem, a Hyun-ju.
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