A vitória por 3 a 1 do Real Madrid contra o Pachuca na Copa do Mundo de Clubes ficou marcada por um fato inédito na competição. O árbitro brasileiro Ramón Abatti Abel acionou pela primeira vez no torneio o protocolo anti-racismo da Fifa após uma discussão entre o zagueiro alemão Antonio Rudiger da equipe europeia e o argentino Gustavo Cabral do time mexicano. O juiz fez um gesto de “X” com os braços cruzados, como indica o protocolo contra racismo da entidade máxima do futebol.
Rudiger comenta que sofreu RACISMO no jogo contra o Pachuca.pic.twitter.com/FSwrrHFfpO
— Jornal dos Sports (@JornalDosSports) June 22, 2025
A medida foi aprovada em maio de 2024, em Congresso da Fifa, para “empoderar jogadores, membros das equipes e árbitros a se posicionarem contra o racismo”, segundo a organização. Quando alguém realiza o gesto para denunciar a discriminação vinda de dentro ou fora do campo, como de torcedores por exemplo, o juiz decide se interrompe ou não a partida. No caso do jogo válido pelo grupo H da Copa do Mundo de Clubes, Ramon Abatti Abel deu continuidade à disputa entre Real Madrid e Pachuca.
Caso haja reincidência dos ataques, o árbitro pode suspender o confronto, e as equipes retornam aos vestiários. Se mesmo após a suspensão, as ofensas racistas persistirem, o jogo pode ser abandonado.
O Código Disciplinar da Fifa detalha multas e punições em caso de ofensas por parte de torcedores nos estádios. Em relação a injúrias vindas de outras pessoas, como os jogadores, como foi na partida da Copa do Mundo de Clubes, se aplica o artigo 15 do documento, no capítulo de “Desordem em partidas e competições”:
“Qualquer pessoa que ofenda a dignidade ou a integridade de um país, de uma pessoa ou de um grupo de pessoas por meio de palavras ou ações desrespeitosas, discriminatórias ou depreciativas em razão de raça, cor da pele, etnia, nacionalidade, origem social, gênero, deficiência, orientação sexual, idioma, religião, opinião política ou qualquer outra opinião, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição ou motivo, será sancionada com uma suspensão de, no mínimo, dez partidas ou por um período específico, ou com qualquer outra medida disciplinar adequada.”
Sob a regra geral de competência da Fifa, a entidade se compromete em “apresentar um recurso junto ao Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) contra qualquer decisão emitida pelo órgão judicial relevante de uma associação membro em casos de abuso racista” que discorde do artigo 15 do Código Disciplinar, depois de consulta ao painel ou comitê competente da organização.
Em casos específicos, “a Fifa reserva-se o direito de investigar, processar e sancionar o(s) infrator(es) caso nenhuma investigação formal tenha sido iniciada dentro de 14 dias após o fato tornar-se conhecido pela FIFA ou se nenhuma decisão tiver sido proferida pela associação membro competente”.
No jogo entre Pachuca e Real Madrid, Rudiger sinalizou ao árbitro que teria sido ofendido por Cabral. O argentino negou as acusações, e afirmou após a partida que proferiu xingamentos, mas não foi racista. “Foi o que ele disse [que houve racismo]. Mas eu disse um termo que sempre digo: ‘cagão de merda’. Podem buscar nas imagens. Disse isso o tempo todo. Não temo sanção, não deve haver pena por isso. É um termo normal”, disse o atleta da equipe mexicana à rádio Cope.
Em entrevista coletiva pós-jogo, o técnico dos merengues, Xabi Alonso, apoiou seu jogador: “Apoiamos o Toni e vamos ver o que acontece. O protocolo da FIFA foi ativado e o apoiamos. Isso é inaceitável e acreditamos no que ele disse. Eles estão investigando agora.”