Em prisão domiciliar há quase uma semana após ser condenada a seis anos de prisão por corrupção, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner está transformando a varanda de seu apartamento em Buenos Aires em um palanque para se comunicar com apoiadores da esquerda peronista.
“Voltaremos, e, além disso, retornaremos com mais sabedoria, mais unidade, mais força”, disse Kirchner, que teve sua voz ecoada por alto-falantes na praça de Maio, em Buenos Aires, na última quarta-feira para apoiadores que protestavam contra sua prisão. “De onde quer que eu esteja, de qualquer trincheira, farei tudo o que puder para estar com vocês.”
A sacada do segundo andar — o único lugar de onde Kirchner agora pode reunir sua base devido ao bloqueio de seu apartamento na cidade — está se tornando um ponto focal para os apoiadores da esquerda peronista.
A prisão domiciliar de Kirchner, concedida pela Justiça da Argentina na última terça-feira, levou dezenas de milhares de manifestantes às ruas de Buenos Aires nos últimos dias e colocou a ex-presidente novamente sob os holofotes como um símbolo de resistência ao governo do presidente Javier Milei.
A secretária-geral do Partido Justicialista (PJ), Maria Teresa Garcia, disse à agência de notícias Reuters que Kirchner continuaria na liderança porque “não há outra pessoa que possa levantar a voz como Cristina”.
Condenação
Kirchner foi condenada a seis anos de prisão por corrupção em 2022. Ela teria supervisionado um esquema de propinas na província de Santa Cruz durante os 12 anos em que ela e seu marido, Néstor Kirchner, estiveram na presidência. Ele serviu de 2003 a 2007, e ela, de 2007 a 2015.
Os tribunais concluíram que Cristina direcionou centenas de milhões de dólares em licitações, financiadas pelos contribuintes, para um sócio e amigo de sua família, o empresário Lázaro Báez, construir estradas na Patagônia, na ponta da América do Sul. Os projetos muitas vezes ficaram inacabados ou foram cancelados.
Doze outras pessoas também são acusadas no caso de corrupção, incluindo Báez e dois ex-ministros do governo kirchnerista que foram condenados em outros casos de corrupção. Como provas, o Ministério Público afirmou que o patrimônio do empresário cresceu 12.000% entre 2004 e 2015 e o de sua empresa aumentou 46.000%. Durante as três presidências dos Kirchner, ele teve como cliente o Estado 51 vezes e fechou cerca de vinte acordos comerciais particulares com a família Kirchner. A promotoria disse que, de 2003 a 2015, o suposto esquema roubou do Estado argentino mais de 5 bilhões de pesos (mais de 150 milhões de reais).
Após o veredicto, Cristina afirmou que “há três anos avisamos que a condenação já estava escrita” e que “está claro que a ideia era me condenar”, apontando que um dos juízes “não atuou sozinho”. Ela sustentou a narrativa de perseguição política durante todo o julgamento.