Doze meses depois de se formar na Royal Academy of Dramatic Art, escola do Reino Unido que forjou feras como Peter O’Toole, Anthony Hopkins e Ralph Fiennes, o ator galês Taron Egerton fez o teste para seu primeiro grande papel principal: o do espião Eggsy em Kingsman: Serviço Secreto (2014), uma comédia de ação do diretor Matthew Vaughn, com o oscarizado Colin Firth como coadjuvante. Após interpretar algumas falas diante de Vaughn, que olhava para uma papelada em sua mesa, o jovem de 23 anos à época anos ficou sem graça, mas perguntou se já tinha terminado o teste — chamando a atenção do cineasta para mirar seus olhos. O diretor, então, começou tudo outra vez e gostou do jeito cru e proativo do novato. Acabou lhe dando o papel do carismático batedor de carteiras transformado em espião. No filme, o galês provou que não tinha medo de se arriscar, algo que o acompanhou em uma sequência de personagens intrigantes que veio a seguir. A mais recente adição a seu currículo é o investigador de criminosos incendiários Dave, na produção de nove episódios Cortina de Fumaça, do aclamado Dennis Lehane, que estreia na Apple TV+ na sexta-feira 27.
Baseada em uma história real, a trama segue um ex-bombeiro que se tornou detetive após ficar traumatizado em serviço. Enquanto precisa localizar dois criminosos que botam fogo em estabelecimentos e casas, matando ou ferindo inocentes, Dave sonha em se tornar um escritor de livros de suspense. Mas o trabalho de Egerton, hoje com 35 anos e cheio de experiência, dá indícios de que talvez ele tenha terceiras intenções. “Sou atraído por papéis ambíguos, porque esse desconhecido me dá espaço para ser criativo”, contou o ator em entrevista a VEJA.

Antes de brilhar como Elton John na cinebiografia Rocketman (2019), em que mostrou versatilidade ao cantar e traduzir em cena o cantor de gênio difícil e sua luta contra as drogas, papel que o consagrou com um Globo de Ouro, o astro do País de Gales viu a carreira passar por instabilidade. Se a franquia Kingsman proporcionou uma parceria primorosa com Firth e arrecadou 800 milhões de dólares de bilheteria mundial, dois filmes feitos por ele, Robin Hood — A Origem (2018) e O Clube dos Meninos Bilionários (2018) —, foram fracassos de crítica e de arrecadação nos cinemas. “Ignorei meus instintos naqueles trabalhos, pois me ofereceram muito dinheiro para fazê-los”, admitiu em 2022 o ator de origem modesta.
A trajetória voltou aos eixos com o papel de Elton, seguido pelo do presidiário que vira informante da polícia em Black Bird, outra série da Apple TV+ criada por Lehane, em que seu personagem precisa conseguir a confissão de um colega de cárcere suspeito de ser um serial killer. “Taron é um ator com uma amplitude impressionante”, elogia Lehane. Nas telas, ele vem se revelando, sobretudo, um herói nada óbvio.
Publicado em VEJA de 20 de junho de 2025, edição nº 2949