O Partido dos Trabalhadores divulgou ontem o Manual de Apoio aos Influenciadores Ativistas Digitais – Pode Espalhar. O texto de 93 páginas traz orientações para a militância sobre como se comportar nas redes sociais, arena na qual a direita dá uma surra na esquerda desde a campanha vitoriosa de Jair Bolsonaro à Presidência, em 2018. O objetivo é equilibrar o jogo no ano eleitoral de 2026.
O manual é um roteiro para atacar o bolsonarismo na internet nas próximas eleições, mas com o cuidado necessário para escapar de processos judiciais. O presidente Lula é citado 18 vezes, apenas três vezes mais do que o antecessor e principal adversário político.
Os petistas, que passaram os últimos anos chamando Bolsonaro de corrupto e fascista nas redes sociais, agora são aconselhados a substituírem esses termos por expressões juridicamente mais seguras, a fim de evitar imputações criminais e processos judiciais.
O manual indica o que chama de “soluções seguras” para os ataques nas redes socias. “Substitua “FACISTA” (SIC): Apontando características autoritárias do discurso preferencialmente utilizando algo como “esse discurso se aproxima ou remete ao fascismo histórico””, diz o texto, errando na grafia da palavra ‘fascista’.
O manual lembra do risco de uma acusação não comprovada render um processo. “Não pode – Atribuir crimes sem prova (ex.: “Bolsonaro é corrupto”) — melhor vincular a investigação ou denúncia. Usar dados pessoais (endereços, telefones, familiares), é melhor evitar”, diz o texto.
Apoio e suporte jurídico
Em julho, conforme antecipou VEJA, o presidente da Fundação Perseu Abramo (FPA), Paulo Okamotto, afirmou que seria formada uma equipe de advogados e orientadores para garantir a segurança jurídica dos militantes. “Se precisar de advogado, vocês podem acionar a nossa rede que vamos tentar providenciar orientação ou defesa”, prometeu Okamotto. A FPA é financiada com recursos do partido.
O manual diz: “Use a rede de apoio: acione coletivos jurídicos e partidos; há advogados militantes e atuantes, a assistência pode ser prestada também pela Defensoria Pública”.
O influenciador Henrique Lopes, que contribuiu com o manual do PT, reforçou que o partido apoia o combate ao bolsonarismo nas redes. “A atuação diária contra a extrema direita é complexa, porque eles frequentemente são os primeiros a cometer crimes virtuais e a recorrer ao assédio judicial contra quem os confronta”, disse. “É muito bom ver esse projeto saindo do forno por meio do Pode Espalhar, com apoio do PT, da FPA e de movimentos sociais, garantindo informação segura”.
Manual tem informações contraditórias
Em sua introdução, o manual divulgado pelo PT traz informações controversas. Diz, por exemplo, que as fraudes do INSS começaram no governo Bolsonaro: “Também apoiamos iniciativas em defesa da democracia, pela punição dos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e pela proteção da aposentadoria, contra as fraudes iniciadas no governo de Jair Bolsonaro”.
O próprio PT, no entanto, declarou em agosto deste ano deste ano que a roubalheira começou antes. “As fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas do INSS, hoje no centro de uma CPMI, não nasceram do nada. Basta seguir o fio da história para descobrir que elas começaram a ganhar forma ainda em 2016, no governo Michel Temer, e se consolidaram definitivamente sob Bolsonaro”.
De olho na face mais propositiva do embate eleitoral, o manual ressalta ainda que o presidente Lula, em seu terceiro mandato, retirou 26 milhões de pessoas da extrema pobreza no Brasil. Uma notícia divulgada pelo próprio governo Lula mostrou que no Brasil 8,6 milhões de pessoas saíram da pobreza entre 2023 e 2024 e que o IBGE revelou que 1,9 milhão deixaram a extrema pobreza no período.