O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusou nesta segunda-feira, 29, a Ucrânia de lançar um ataque com drones contra uma das residências do presidente Vladimir Putin, localizada na região de Novgorod. A operação, negada por Kiev, não foi bem sucedida, disse Lavrov, que não informou se o russo estava no local no momento do incidente. A escalada das tensões ocorre um dia após uma reunião entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Flórida.
Ao menos 91 drones, segundo o chanceler, foram abatidos pela Força Aérea da Rússia. Ele alertou que a suposta tentativa de ataque mudaria a posição de Moscou nas negociações do acordo de paz elaborado pelos EUA. Lavrov também adiantou que militares russos já escolheram locais estratégicos para “ataques de retaliação”. Zelensky, por sua vez, disse que a alegação é “uma completa invenção” do Kremlin.
“É claro que, para os russos, se não há escândalo entre nós e os Estados Unidos, e estamos progredindo, para eles é um fracasso, porque eles não querem o fim desta guerra”, escreveu nas redes sociais. “A Rússia está fazendo isso de novo, usando declarações perigosas para minar todas as conquistas de nossos esforços diplomáticos conjuntos com a equipe do presidente Trump. Continuamos trabalhando juntos para aproximar a paz.”
+ EUA oferecem 15 anos de garantias de segurança à Ucrânia, diz Zelensky
Ameaças ao Donbas
Ainda nesta segunda, porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, adiantou que um novo telefonema entre Trump e Putin deve ocorrer em breve. Os dois conversaram por ligação no domingo 28, antes do encontro do republicano com Zelensky. Peskov também renovou as ameaças sobre a região do Donbas, reivindicada por Moscou como parte de um acordo de paz, ordenando a retirada das tropas ucranianas.
Questionado sobre qual decisão Kiev deveria tomar em relação à região, Peskov disparou: “Estamos falando da retirada das forças armadas do regime do Donbas”, que abrange Donetsk e Luhansk. Ele, no entanto, se recusou a responder se essa demanda também se aplicava a Zaporizhzhia e Kherson — regiões que, assim como as outras duas, foram anexadas ilegalmente ao mapa russo em setembro de 2022.
No momento, a Rússia controla 90% do Donbas, 75% das regiões de Zaporizhzhia e Kherson, e partes de Kharkiv, Sumy, Mykolaiv e Dnipropetrovsk, de acordo com dados do governo. Contando com a Crimeia, anexada em 2014, isso representa um quinto da Ucrânia. Para além das concessões territoriais, Putin demanda que Kiev abandone a pretensão de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar ocidental.
Além disso, o líder russo quer que a Ucrânia se desmilitarize, uma ideia rejeitada por Zelensky, que insiste em “um forte exército” como uma exigência imutável. Após o encontro com Trump, o ucraniano confirmou que aceitou discutir um plano de paz baseado em 20 pontos apresentado pelos EUA, que inclui garantias de segurança americanas por 15 anos. Ele havia pedido compromissos por até 50 anos.
Embora partes estruturais do acordo ainda estejam em aberto, o republicano afirmou que Rússia e Ucrânia estão a cerca de 95% de um entendimento para encerrar a guerra, iniciada em fevereiro de 2022. Ele adotou um tom otimista e disse acreditar que um pacto seja firmado “em duas semanas”, acrescentando que restam poucas “questões espinhosas” a serem resolvidas antes de um entendimento final. Zelensky, contudo, voltou a destacar que rejeita a possibilidade de abrir mão de parte do país e que discorda de Trump nesse quesito.