Na leitura do Igor Lucena, doutor em Relações Internacionais e economista, a geopolítica global entrou numa fase de coordenação informal entre três polos. Sem tratados nem anúncios oficiais, Xi Jinping, Vladimir Putin e Donald Trump exercem teias de comando que organizam política, economia e segurança em grandes regiões do mundo. É uma divisão de influência que passa por energia, comércio, tecnologia, defesa e cadeias produtivas — e que molda decisões de governos e mercados.
A China de Xi projeta poder pelo comércio, infraestrutura e financiamento, ancorando partes da Ásia, África e América Latina; a Rússia de Putin consolida sua influência por energia, segurança e alianças estratégicas; e os Estados Unidos, sob Trump, seguem como centro financeiro e militar, com capacidade de pressionar mercados via tarifas, sanções e política externa. O resultado é um mapa de dependências cruzadas, no qual países e empresas ajustam estratégias para não ficar fora de nenhum eixo — pagando prêmios de risco quando escolhem lados.
Para 2026, Lucena chama atenção ao papel de Trump: ele continuará dominando as manchetes. Mesmo com a retórica sobre um eventual terceiro mandato, a avaliação é pragmática: a chance existe, mas é mínima, e o mercado não precifica isso agora. Investidores olham para crescimento, juros, comércio e conflitos — não para uma hipótese constitucional ainda distante.
O ponto-chave é entender que esse tripé de poder não precisa de anúncios para funcionar. Ele opera por incentivos, coerção e alinhamentos seletivos. Para o Brasil e outros emergentes, o desafio é navegar entre os três, reduzir vulnerabilidades e transformar a disputa global em oportunidade — sem subestimar a volatilidade que vem junto.