Em um ano marcado por ajustes de grade, trocas de comando e tentativas de rejuvenescimento da audiência, a Globo também acumulou tropeços evidentes. Três produtos, em especial, simbolizam as dificuldades da emissora em equilibrar tradição, inovação e sintonia com o público em 2025: Aberto ao Público, o remake de Vale Tudo e o Big Brother Brasil 2025. Por razões diferentes, todos expõem limites criativos, decisões equivocadas e uma desconexão crescente entre intenção e resultado.
Pensado como um programa de auditório híbrido, Aberto ao Público nasceu com a ambição de renovar o humor da Globo apostando em interação, debates leves e participação da plateia. Na prática, revelou-se um formato indeciso, sem identidade clara. Apresentado por Maurício Meirelles, Bruna Louise, Murilo Couto e Thiago Ventura, o programa oscilou entre a tentativa de ser popular e o receio de assumir riscos, resultando em quadros longos, humor previsível e debates artificiais.
Com piadas sem graça e pegadinhas manjadas com convidados — de invadir o celular de fulano e publicar alguma mentira em seu perfil ou mandar mensagens absurdas para conhecidos, faltou ritmo, surpresa e, bom, fazer rir. Em vez de dialogar com o público, o programa pareceu falar para um espectador abstrato, que não se reconhece nem se engaja. Nem mesmo a interação com a plateia, que deveria ser algo espontâneo, pareceu genuíno ou minimamente cômico. O resultado foi uma atração morna, que não empolgou — o pior destino para quem busca relevância na TV aberta. A intenção era constranger os convidados, mas foi o público que acabou constrangido.
Já Vale Tudo carregou uma grande responsabilidade por longos meses no ar: o de revisitar um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira — e fracassou na missão de mostrar ao público um produto de boa qualidade. O problema do remake não estava apenas na inevitável comparação com a versão original, mas na incapacidade de justificar sua própria existência. Ao tentar atualizar temas como corrupção, ética, ambição e até a abordagem sobre casais LGBTQIA+, a novela optou por soluções óbvias, diálogos excessivamente didáticos e chatos e personagens menos complexos do que a memória afetiva do público exige. A ousadia moral que marcou a obra nos anos 1980 se diluiu em uma narrativa preocupada em não desagradar. O resultado, porém, foi uma novela anêmica recheada de publicidades mal colocadas e erros grotescos de cena.
O caso mais ruidoso, porém, foi com certeza o Big Brother Brasil 2025. Mesmo ainda sendo um dos carros-chefes comerciais da emissora, o reality escancara, mais uma vez, seus sinais de esgotamento. O formato perdeu o frescor do conflito espontâneo e se transformou em uma vitrine calculada de personagens treinados para performar nas redes sociais. As dinâmicas se repetiram, os participantes foram em sua maioria sem sal, os discursos ensaiados e a edição pareceu mais preocupada em proteger narrativas pré-fabricadas do que em mostrar o jogo como ele é. O público percebeu —e reagiu com indiferença, quando não com rejeição. Desafio é lembrar quem saiu vencedor e/ou participou da edição deste ano.
Aberto ao Público, Vale Tudo e Big Brother Brasil 2025 não são fracassos absolutos, mas representam derrotas simbólicas —sinais de que, em 2025, nem sempre a maior emissora do país conseguiu estar à altura de sua própria história.
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