Não houve concorrência à altura: as injeções semanais para perda de peso se consolidaram em 2025 como a grande sensação da indústria farmacêutica, movimentando mais de 65 bilhões de dólares globalmente e ajudando a reescrever o tratamento da obesidade. À frente da categoria, inaugurada pela semaglutida de Ozempic e Wegovy, esteve o Mounjaro, medicamento à base de tirzepatida que foi oficialmente lançado no Brasil em junho deste ano — e colocou sua fabricante, a americana Eli Lilly, na liderança dos laboratórios mais valiosos do mundo. Demanda não falta: crescendo em prevalência ano a ano, o excesso de peso já afeta mais de 1 bilhão de pessoas no planeta. No país que mais recorreu à canetada farmacológica, os Estados Unidos, estima-se que até 10% da população usa ou já usou drogas do tipo, os agonistas de GLP-1. O Brasil não fica atrás: embora o preço seja o principal obstáculo para a utilização em larga escala por aqui, somos a segunda nação que mais busca por esses produtos no Google, só atrás da procura americana.
O sucesso e o efeito desses remédios repercutem em inúmeros setores, da alimentação ao vestuário, que tiveram de se adequar a um contingente de consumidores comendo menos e trocando a numeração da roupa. E, claro, houve quem tentasse se aproveitar do chamariz como um atalho estético e livre de acompanhamento médico. Para colocar certa ordem na farra de prescrições e aquisições, a Anvisa promulgou em junho uma norma exigindo a retenção da receita das canetas em farmácia. Mas o descalabro mesmo se deu com as versões manipuladas de semaglutida e tirzepatida, que não passam pelo rito de pesquisa e segurança exigido dos produtos originais e são formuladas em meio a brechas regulatórias. A Anvisa entrou de novo em cena e limitou esse mercado, embora haja relatos de que se manipulam até substâncias em estudo, ainda não lançadas. Ao menos começam a chegar às drogarias marcas nacionais dos agonistas de GLP-1, de preços mais acessíveis — e, como se espera, com o devido controle de qualidade. E as canetas que se cuidem, pois, no horizonte, despontam os primeiros comprimidos de alta potência para emagrecer. É o próximo capítulo.
Publicado em VEJA de 24 de dezembro de 2025, edição nº 2976