O aumento da temperatura provocado pelas mudanças climáticas pode empurrar entre 62 milhões e 99 milhões de pessoas para a pobreza extrema até 2030, caso o ritmo atual de aquecimento se mantenha. A conclusão é de um estudo publicado nesta segunda-feira (22) na revista científica Nature Climate Change.
A pesquisa analisou dados de mais de 1.600 regiões dentro de países, em um total de 130 nações, ao longo das últimas duas décadas. Segundo os autores, essa abordagem revela impactos mais fortes do aquecimento global do que estudos baseados apenas em médias nacionais.
De acordo com o levantamento, cada aumento de 1°C na temperatura média anual eleva a taxa de pobreza entre 0,6 e 1,2 ponto percentual, considerando a linha de extrema pobreza de US$ 2,15 por dia. Em termos relativos, isso representa um crescimento de até 15,6% no número de pessoas pobres.
O aquecimento também agrava a desigualdade. O estudo mostra que um aumento de 1°C faz o índice de Gini, principal medida de desigualdade de renda, subir entre 1,3% e 1,9%.
Os impactos não são distribuídos de forma uniforme. Países mais pobres, especialmente na África Subsaariana, são os mais afetados. Regiões com economias fortemente dependentes da agricultura também sofrem mais, já que o calor extremo reduz a produtividade no campo e afeta a renda das famílias.
“Quando olhamos apenas para médias nacionais, deixamos de ver o que acontece nos lugares mais vulneráveis”, afirmam os autores. Em países como Indonésia, por exemplo, a taxa de pobreza varia de quase zero em algumas regiões a mais de 40% em outras, diferença que desaparece nos dados agregados.
Segundo o estudo, análises feitas apenas no nível nacional subestimam os efeitos reais das mudanças climáticas, pois não captam variações locais de temperatura, renda e estrutura econômica.
Os pesquisadores também observam que regimes democráticos e economias mais diversificadas, com maior peso da indústria, tendem a ser menos vulneráveis ao impacto do calor. Já regiões mais quentes e próximas à linha do Equador enfrentam riscos maiores.
Com base em projeções climáticas internacionais, o estudo estima que, até 2030, a temperatura média global deve subir entre 1,2°C e 1,9°C em relação ao período histórico. Nesse cenário, o aumento da pobreza extrema causado apenas pelo aquecimento global pode chegar a quase 100 milhões de pessoas, além das pressões já existentes.
Para os autores, os resultados reforçam a necessidade de políticas climáticas combinadas com estratégias de combate à pobreza e à desigualdade, especialmente em países em desenvolvimento. “O aquecimento global não é apenas um problema ambiental. É também um fator direto de aprofundamento das desigualdades sociais”, concluem.