Mais de 400 pessoas morreram no Irã desde o início do conflito com Israel, em 13 de junho, informou a emissora estatal iraniana IRIB neste sábado, 21, citando o Ministério da Saúde iraniano.
“Até esta manhã, as mãos do regime israelense estão sujas com o sangue de 400 iranianos indefesos, e feriram 3.056 pessoas com seus mísseis e drones”, disse a pasta, segundo a IRIB. A maioria dos mortos e feridos é formada por civis.
Em Israel, 24 civis foram mortos por ataques de mísseis iranianos, de acordo com autoridades locais.
Mais cedo, a agência de notícias estatal iraniana Tasnim havia feito um recorde do número de vítimas, indicando que ataques israelenses já haviam matado 54 mulheres e crianças desde o início do conflito.
Entre os mortos está Saeed Izadi, comandante iraniano da Força Quds, o braço internacional da Guarda Revolucionária. A morte foi anunciada pelo governo de Israel neste sábado.
Izadi foi morto no apartamento em que morava na cidade de Qom, segundo o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, como parte de “esforços prolongados de coleta de inteligência”.
Ataque contra usina
Em paralelo, forças de Israel atacaram a usina nuclear iraniana de Isfahan neste sábado, 21, pela segunda vez desde o início do conflito entre os países, que entra em sua segunda semana, segundo autoridades israelenses. A informação foi confirmada posteriormente pelo vice-governador da província à imprensa estatal iraniana, que afirmou não haver vazamento de materiais radioativos, mas pediu a retirada da população de áreas próximas à instalação.
Segundo Israel, ataques durante a noite miraram “dois locais de produção de centrífugas” na área de Isfahan, demonstrando “um duro golpe às capacidades de produção do Irã”.
Israel já havia atacado o Centro de Tecnologia Nuclear de Isfahan no primeiro dia do conflito, em 13 de junho. Um oficial das Forças de Defesa de Israel afirmou que a instalação sofreu danos significativos. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que quatro prédios no local foram gravemente danificados, mas um porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã afirmou que os danos foram limitados.
Além da usina nuclear, Isfahan também conta com uma importante base aérea iraniana que era lar da antiga frota iraniana de aviões militares F-14 Tomcats – comprados dos Estados Unidos antes da revolução islâmica de 1979.
Segundo Israel, a campanha tem objetivo de impedir que o Irã adquira uma bomba atômica — objetivo que Teerã nega ter.
Acordo nuclear
Em 2015, um acordo abrangente foi firmado pelos Estados Unidos e outras nações com o Irã, com o objetivo de podar as ambições nucleares do regime dos aiatolás. Pelo pacto, o país estava autorizado a manter até 300 quilos de urânio enriquecido a no máximo 3,67% de pureza, limite adequado para fins civis, como geração de energia e pesquisa, mas muito abaixo dos 90% necessários para a fabricação de armas nucleares.
Na semana passada, porém, a Agência Internacional de Energia Atômica, denunciou pela primeira vez que a nação islâmica violou o tratado de não-proliferação do qual é signatária, três meses após divulgar um relatório alarmante, segundo o qual o Irã já acumula cerca de 275 quilos de urânio enriquecido a 60%.
Esse material poderia ser convertido em grau militar em apenas uma semana e seria suficiente para produzir até meia dúzia de ogivas nucleares — embora a construção de uma bomba funcional, a toque de caixa, deva levar ainda pelo menos um ano. (Teerã diz que não é nada disso; o programa nuclear teria apenas fins energéticos.)
Em seu segundo mandato, Trump voltou a apostar na diplomacia, mas uma nova série de negociações entre o Irã e os Estados Unidos fracassou quando Israel lançou a chamada Operação Leão em Ascensão, que mira instalações nucleares e capacidades balísticas do Irã, em 13 de junho. O presidente americano, agora, tem alternado entre ameaçar Teerã e instar o país a voltar à mesa de negociações. Seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff, conversou com Araqchi diversas vezes desde a semana passada, segundo a agência de notícias.
Trocas de disparos
Enquanto isso, os ataques continuam em ambos os lados. Na sexta-feira, exército israelense afirmou que suas aeronaves destruíram mísseis terra-ar no sul do Irã, além de matar um grupo de comandantes militares iranianos responsáveis por lançamentos de mísseis. De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), os ataques impediram o lançamento de mísseis programado para o final da noite.
O Irã disparou uma rara salva de mísseis balísticos no meio da tarde contra Israel, acionando sirenes de ataque aéreo em todo o país. Pelo menos um dos mísseis escapou das defesas aéreas israelenses, atingindo uma área próxima às docas de Haifa, ferindo pelo menos 45 pessoas, 19 das quais foram hospitalizadas. Um míssil iraniano também atingiu a cidade de Bersheba, no sul do país, onde não houve feridos.
Nesta sexta, o chefe militar israelense afirmou que o país deve se preparar para uma “guerra prolongada” e para “os dias difíceis” que estão por vir. Desde que Israel começou a realizar ataques aéreos ao Irã na sexta-feira passada, alegando que seu arqui-inimigo estava prestes a desenvolver armas nucleares, 639 pessoas morreram no país, de acordo com a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos, com sede nos Estados Unidos. Entre as vítimas estão o alto escalão militar e cientistas nucleares.
Tel Aviv, por sua vez, afirmou que pelo menos duas dúzias de civis israelenses foram mortos por mísseis iranianos.
Às tensões do conflito em si, soma-se a ameaça do presidente americano, Donald Trump, que afirmou na quinta-feira 19 que decidiria “se aceitaria ou não” o envolvimento militar direto dos Estados Unidos, em apoio a Israel, nas próximas duas semanas.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que a expansão do conflito entre Israel e o Irã pode “acender um fogo que ninguém poderá controlar” e apelou a ambas partes em conflito para “darem uma chance à paz”, referenciando a clássica canção antiguerra de John Lennon de 1969.