Um dos medicamentos de última geração mais esperados para o tratamento da obesidade, a pílula de uso diário chamada orforgliprona passou em um novo teste de força, demonstrando potencial de perda de peso no mesmo patamar de algumas canetas injetáveis, redução expressiva da gordura abdominal e bom controle do açúcar no sangue. É o que revela uma pesquisa recém-publicada no prestigiado periódico médico The Lancet.
O comprimido, desenvolvido pela farmacêutica americana Eli Lilly (a mesma fabricante do Mounjaro), é um agonista de GLP-1, a exemplo da semaglutida das canetas de Ozempic e Wegovy e da formulação via oral Rybelsus – todos eles do laboratório dinamarquês Novo Nordisk. No corpo, eles imitam hormônios que atuam no aumento da saciedade, no equilíbrio glicêmico e na redução do peso.
Desta vez, a orforgliprona foi avaliada em um estudo multicêntrico de fase 3 controlado por placebo – ou seja, o remédio de verdade versus cápsulas sem o princípio ativo real – que durou 72 semanas. Nem os voluntários nem os cientistas sabiam quem tomava o quê (a metodologia duplo-cega).
Participaram do experimento 2 859 pessoas com sobrepeso ou obesidade e diagnóstico de diabetes tipo 2 espalhadas por 136 centros de pesquisa em dez países. Todas elas eram orientadas a adotar hábitos saudáveis e a seguir o tratamento farmacológico que já vinham realizando – como o uso de metformina, por exemplo.
O principal objetivo era entender o impacto da droga experimental na perda de peso. O segundo era mensurar o efeito sobre o controle da glicose, entre outras repercussões de saúde.
E a orforgliprona foi bem-sucedida. “Sua administração uma vez ao dia, junto a mudanças no estilo de vida, demonstrou redução estatisticamente superior no peso corporal em comparação com o placebo, apresentando um perfil de segurança semelhante ao de outros agonistas de GLP-1”, concluíram os autores do ensaio clínico.
Mas é ao destrinchar os resultados que se percebe o potencial do remédio. “O efeito da orforgliprona na população com diabetes tipo 2 e obesidade foi superior ao do Ozempic e comparável ao do Wegovy, que são aplicados via subcutânea semanalmente”, destaca o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto.
Os pacientes perderam, em média, 10% do peso corporal, atingindo a meta primária do estudo. Além disso, a taxa de hemoglobina glicada – exame que dá uma média trimestral dos níveis de glicose no sangue – caiu 1.8 entre o grupo usando o fármaco real.
“Outro dado que chama bastante a atenção foi a redução de 10 centímetros, em média, na circunferência abdominal“, diz Couri. Sim, o comprimido diminuiu barriga – algo importante para a saúde, uma vez que a gordura que se deposita no abdômen é a pior para o estado metabólico e inflamatório. “Essa redução dá três ou quatro buracos a menos no cinto”, ilustra o médico.
O colunista de VEJA SAÚDE aponta outros méritos da medicação experimental. “Houve diminuição da pressão arterial, queda de 17% nos níveis de triglicérides e redução de 40% no PCR, um marcador da inflamação no organismo”, conta Couri. Por tudo isso, espera-se que a orforgliprona exerça também um papel de proteção cardiovascular – como se tem visto com os análogos de GLP-1 injetáveis.
A previsão é que as agências regulatórias liberem o comprimido para obesidade e diabetes tipo 2 em 2026.