Dados de satélite revelam que o Brasil, anfitrião da COP30 neste ano, está entre os países associados a grandes vazamentos de metano provenientes da indústria de petróleo e gás, apesar dos compromissos internacionais para reduzir emissões desse gás de alto impacto climático.
Segundo informações compartilhadas com o site Climate Home News por plataformas independentes de monitoramento ambiental, como Carbon Mapper e SkyTruth, ao menos três eventos classificados como “superemissores” foram detectados em abril deste ano na bacia de Santos, no litoral do Rio de Janeiro. As plumas de metano estavam associadas a embarcações que operam no campo de Tupi, um dos principais ativos do pré-sal brasileiro, controlado majoritariamente pela Petrobras.
O metano é considerado um superpoluente climático por reter cerca de 80 vezes mais calor que o dióxido de carbono em um horizonte de 20 anos. Embora permaneça menos tempo na atmosfera, sua redução é vista por cientistas como uma das formas mais rápidas de desacelerar o aquecimento global no curto prazo. A Agência Internacional de Energia estima que, para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C, as emissões de metano do setor fóssil precisariam cair 75% até 2030.
No caso brasileiro, duas das plumas detectadas ultrapassaram 300 quilos de metano emitidos por hora, enquanto uma superou 700 quilos por hora. O limite usado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos para classificar um evento como superemissor é de 100 quilos por hora.
Para especialistas, o fato de três grandes vazamentos terem sido identificados em uma única passagem de satélite sugere um problema estrutural. “Detectar múltiplas plumas em uma única observação indica que isso pode não ser um evento isolado”, afirmou ao Climate Home News John Amos, CEO da SkyTruth.
A Petrobras declarou que mantém programas de detecção e reparo de vazamentos e que seus ativos na bacia de Santos operam dentro do primeiro quartil da indústria em emissões por barril produzido. A empresa também afirmou que uma única observação por satélite não permite conclusões definitivas sobre a frequência dos vazamentos.
Apesar disso, dados públicos da própria Petrobras indicam que, após uma forte queda entre 2015 e 2022, as emissões de metano da companhia se estabilizaram nos últimos anos, em torno de 1 milhão de toneladas de CO₂ equivalente por ano. Organizações ambientais apontam que essa estagnação contrasta com o discurso de liderança climática adotado pelo país no contexto da COP30, que será realizada em Belém, em novembro.
O Brasil é signatário do Compromisso Global do Metano, lançado na COP26, que prevê a redução de 30% das emissões globais do gás até 2030. No entanto, avaliação recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente indica que, mantidas as políticas atuais, as emissões globais de metano tendem a crescer cerca de 5% até o fim da década.
Situação semelhante foi observada no Azerbaijão, anfitrião da COP29 no ano passado. Satélites identificaram plumas persistentes de metano ao longo da costa sul do país, uma das regiões mais antigas e intensas de exploração de petróleo e gás. Os vazamentos foram associados a infraestruturas operadas pela estatal SOCAR, incluindo oleodutos e estações de compressão.
Em 2024, ano em que sediou a conferência do clima, a SOCAR reportou cerca de 200 mil toneladas de metano emitidas, mais que o triplo do registrado no ano anterior. A empresa afirmou ter ampliado o monitoramento com uso de drones, inteligência artificial e dados de satélite, mas as emissões continuaram sendo detectadas em 2025.
Os alertas fazem parte de um sistema do Observatório Internacional de Emissões de Metano, da ONU, que notifica governos sobre grandes vazamentos identificados do espaço. Um relatório recente mostrou que cerca de 90% dessas notificações não recebem resposta oficial, e nem Brasil nem Azerbaijão figuram entre os casos em que houve comprovação de redução de emissões após os alertas.
Para analistas, o setor de petróleo e gás é o que oferece maior potencial de cortes rápidos e de baixo custo. Medidas como eliminar vazamentos, acabar com a queima rotineira de gás e reaproveitar o metano desperdiçado poderiam, segundo o Instituto de Governança dos Recursos Naturais, gerar ganhos econômicos ao mesmo tempo em que reduzem o impacto climático.
Às vésperas da COP30, cresce a pressão para que países anfitriões demonstrem liderança prática, e não apenas retórica, no combate ao metano. A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, voltou a defender a criação de um acordo internacional juridicamente vinculante para o setor de petróleo e gás, diante do que chama de fracasso das iniciativas voluntárias.
Enquanto isso, imagens captadas do espaço continuam a expor a distância entre os compromissos climáticos assumidos em conferências internacionais e a realidade das emissões na infraestrutura fóssil global.