O Banco do Japão anunciou nesta sexta-feira um aumento da taxa básica de juros para 0,75%, o patamar mais alto desde 1995. A decisão marca mais um passo na tentativa de conter a inflação persistente no país e fortalecer o iene, após décadas de política monetária ultrafrouxa adotada para combater a deflação.
Apesar de o juro japonês continuar muito abaixo do observado em outras grandes economias, o movimento tem peso simbólico e prático. Ele ocorre em um momento delicado, em que o governo da primeira-ministra Sanae Takaichi amplia gastos públicos para estimular a economia, mesmo com a dívida pública já ultrapassando duas vezes o tamanho do Produto Interno Bruto.
Recentemente, o governo aprovou um pacote de estímulos equivalente a cerca de 117 bilhões de dólares, com recursos destinados a subsídios para famílias, aumento do orçamento militar e investimentos estratégicos em setores como semicondutores e construção naval. Mais da metade desse montante será financiada com a emissão de novos títulos públicos, o que tende a elevar o custo de financiamento do Estado em um cenário de juros mais altos.
Analistas avaliam que o pacote fiscal pode ajudar a sustentar o crescimento econômico em 2026, especialmente após a economia japonesa ter encolhido no terceiro trimestre deste ano, pressionada por tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre exportações. A consultoria BMI, do grupo Fitch Solutions, revisou para cima sua projeção de crescimento do PIB japonês no próximo ano, de 0,7% para 1,4%.
Ao mesmo tempo, o aumento dos juros já provoca reações nos mercados financeiros. Investidores têm demonstrado preocupação com a trajetória das contas públicas, o que levou a uma venda de títulos do governo e empurrou os rendimentos de longo prazo ao nível mais alto em quase 20 anos.
A decisão do banco central também reflete a crescente preocupação com a desvalorização do iene. A grande diferença entre os juros do Japão e os de outras economias avançadas contribuiu para a fraqueza da moeda japonesa, encarecendo importações e pressionando os preços internos. A inflação permanece acima da meta oficial de 2% há quase quatro anos, enquanto os salários não acompanham o ritmo de alta dos preços, limitando o consumo das famílias.
Para o Banco do Japão, elevar os juros ajuda a reduzir essa diferença em relação ao exterior, sustentar o iene e, de forma indireta, aliviar a inflação. O desafio é calibrar o aperto monetário sem frear excessivamente a atividade econômica, num país pouco acostumado a conviver com juros mais elevados.
Economistas afirmam que o banco central deve agir com cautela. A expectativa é de aumentos graduais, acompanhados de períodos de observação para avaliar os efeitos sobre o consumo, os investimentos e os preços.
O movimento inaugura uma nova fase da política econômica japonesa, marcada por um difícil equilíbrio entre estímulo fiscal, controle da inflação e administração de uma das maiores dívidas públicas do mundo.