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A superação da dor de Pedro Lamin, o Nelinho de ‘Os Donos do Jogo’

Mineiro de Virgínia, criado em Petrópolis (RJ) e ex-jogador de futebol, Pedro Lamin viu sua vida dar uma guinada nas últimas semanas – mas bem longe dos campos. Aos 36 anos, o ator se tornou um fenômeno ao interpretar Nelinho em Os Donos do Jogo, personagem enigmático e de poucas palavras que conquistou o público da Netflix em poucos dias e transformou sua carreira. O sucesso, porém, veio em um momento pessoal delicado: enquanto gravava a série, Pedro enfrentava a recidiva do câncer da mãe, que morreu meses depois. Entre luto, ascensão repentina e uma entrega completa ao personagem, o flamenguista apaixonado revisita, em conversa com a coluna GENTE, a trajetória que o levou dos gramados aos sets da Netflix – e fala sobre fama, política, parceria com André Lamoglia e o que esperar da segunda temporada.

Nelinho virou um fenômeno. Você esperava essa repercussão toda? Desde que estava gravando, senti que era algo forte. Eu dizia para os meus irmãos: “sinto que a gente está gravando um sucesso”. Mas não conseguia imaginar a dimensão disso. A cada dia parece aumentar mais: moro em Petrópolis e saio na rua todo dia e as pessoas me chamam “Nelinho”. Nunca vivi isso. 

Como foi sua preparação para viver o Nelinho? Ao ler o roteiro, entendi que ele era movido pelo silêncio e pela dor, mas também por uma vaidade que ultrapassava a cicatriz. O figurino ajudou a encontrá-lo: quando vesti a roupa, senti que era o papel da minha vida. Fiz um treinamento com o Batalhão de Ações com Cães e comprei uma arma cenográfica para treinar o corpo. Sou o oposto do personagem: preciso falar e trocar. Por isso, no set eu me recolhia, revia as cenas e dormia cedo, para preservar o silêncio interno que exige.

A caracterização ficou marcante, a cicatriz especialmente. Como foi essa construção? Quando soube que havia uma cicatriz logo pedi para ver como seria. A cicatriz encaixou perfeitamente. A colocação levava cerca de 25 minutos e eu tive 44 diárias; em poucos dias precisei tirar e colocar novamente por causa do calor. Quando a coloquei pela primeira vez, olhei no espelho e senti: “vai dar certo”. A cicatriz e o figurino foram a cereja do bolo. Heitor me falou no começo: “o Nelinho é um totem” – e construí em cima dessa imagem.

Como foi a relação com o André Lamoglia durante esse processo? Desde o começo a gente se apoiou muito. Não brigamos nenhum dia, do primeiro ao último. Contávamos muito um com o outro. Sabíamos que a série podia mudar nossas vidas, para o bem ou para o mal, então fomos juntos. O André foi um pilar enorme nessa preparação.

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Você já conhecia o universo do jogo do bicho antes da série? Não conhecia a fundo. Como há muitas lendas, eu me apeguei mais às relações familiares: a relação com o irmão, a briga por poder e dinheiro, o quanto isso adoece as pessoas. O Heitor foi claro: estávamos construindo o nosso universo do jogo do bicho, não reproduzindo a realidade. 

Você já jogou no bicho? Nunca. Meu foco foi construir Nelinho como um policial de elite que saiu dessa vida por algo que aconteceu. Não o levei para o lado do jogo do bicho em si; levei para o lado da lealdade ao irmão. Nelinho é metódico: vive o presente, não é sonhador, não fala muito sobre o futuro. Nelinho vive o agora.

Como foi essa sua passagem pelo futebol? Futebol é minha vida. Fui vice-campeão pelo Atlético da Vila e profissional no Serrano, de Petrópolis. Até uns seis anos atrás, se o Flamengo me chamasse, eu largaria tudo para jogar lá. Recentemente, fui convidado pelo Bruno Coimbra, filho do Zico, para jogar no Maracanã nos jogos dos artistas. Isso é uma realização pra mim.

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Você acompanha a repercussão nas redes sociais? Leio tudo que posso. Criei um TikTok só para ler as mensagens. Fico muito feliz porque 90% delas não são sexualizadas; são elogios à atuação. Meu grande sonho era ser reconhecido pelo talento.

Em uma das cenas você fala que odeia playboy. E aí, odeia playboy? Não é exatamente sobre odiar alguém que tem dinheiro, e sim sobre uma energia de “playboy”: a pessoa que só pensa em si, que passa por cima dos demais. Isso tem mais a ver com meu viés político: sou declaradamente de esquerda e não acredito no acúmulo infinito de capital. Na cena, aquela energia toda estava ali… e saiu: “eu odeio Playboy”. Se não me engano, não estava daquele jeito no roteiro.

O que pode adiantar sobre a segunda temporada? Ainda não temos roteiro. A preparação deve começar em maio e as gravações em junho. Penso no Nelinho todos os dias; acho que a irmandade com o André continua, pode haver apontamentos para relações amorosas, o esqueleto da família pode voltar; há muito material para desenvolver.

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Quanto à onda de séries sobre crimes, você acha que “Os Donos do Jogo” romantiza a máfia ou cria galãs do crime? A tendência do entretenimento é ampliar tudo, o que pode levar à romantização, e isso é perigoso. Mas essas produções também eternizam e expõem a impunidade histórica do Brasil, impedindo que seja esquecida. Não culpo a série. Isso é um reflexo de um país que ainda precisa avançar em educação. Ao mesmo tempo, me orgulha ver uma produção brasileira no topo internacional: é uma chance de mostrar o Brasil ao mundo.

Como foi enfrentar a preparação do Nelinho enquanto sua mãe enfrentava o câncer? Difícil. Quando descobrimos o segundo câncer da minha mãe, já avançado, entendemos que seria um tratamento paliativo. Foi angustiante, com muita insônia, mas um processo ajudou o outro.

Como foi viver a perda e o sucesso do seu trabalho? Foi ambíguo e muito potente. De um lado, minha carreira tomou o rumo que eu sempre sonhei. De outro, faltou ouvir a opinião dela sobre o personagem. Ela sempre teve as melhores percepções, e dói não saber o que acharia do Nelinho. O amor que recebo das pessoas, dos amigos e da família tem ajudado a preencher essa ausência.

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