O perfil do câncer de pulmão está no centro das discussões da principal entidade científica da área no mundo. Dados recentes que apontam o aumento de diagnósticos em pessoas mais jovens e sem histórico de tabagismo levaram a International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC) a intensificar o debate sobre novas estratégias de prevenção, rastreamento e tratamento da doença. O tema foi um dos destaques abordados na mais recente reunião do board da IASLC, realizada entre os dias 12 e 14 de dezembro, em Denver (EUA). O encontro reuniu especialistas responsáveis por definir diretrizes científicas seguidas por profissionais de mais de 100 países.
“Estamos diante de uma mudança clara no perfil do câncer de pulmão. Cada vez mais vemos pacientes jovens, muitas vezes sem os fatores de risco clássicos, o que exige novos olhares, novos estudos e políticas de saúde atualizadas”, afirma a oncologista Clarissa Baldotto, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Baldotto passou a integrar o Board da IASLC, a maior entidade mundial dedicada à pesquisa, prevenção e tratamento do câncer de pulmão e de tumores torácicos. Com a nomeação, tornou-se a única mulher da América Latina no grupo, reforçando a presença brasileira nas discussões globais sobre a doença. Entre os dias 12 e 14 de dezembro, ela participou, em Denver (EUA), de sua primeira reunião oficial como integrante do board.
Um dos principais alertas apresentados na IASLC foi o crescimento de casos em adultos jovens. Estudos internacionais, como os conduzidos pela oncologista Narjust Florez, da Universidade de Harvard, indicam que até 10% dos diagnósticos de câncer de pulmão ocorrem antes dos 50 anos e que cerca de 32% dos pacientes nunca fumaram, reforçando a necessidade de ampliar os critérios de suspeição da doença.
“Esse dado desmonta a ideia de que o câncer de pulmão está restrito a um perfil específico. Precisamos discutir diagnóstico precoce de forma mais ampla, inclusive em sistemas públicos de saúde”, destaca Clarissa.
No Brasil, esse debate ganha relevância diante dos números da doença. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o país registra cerca de 32,5 mil novos casos de câncer de pulmão por ano, mantendo a doença entre as principais causas de morte por câncer.
Clarissa Baldotto integra um estudo brasileiro que aponta que o rastreamento com tomografia de baixa dose no Sistema Único de Saúde (SUS) é custo-efetivo e pode antecipar o diagnóstico em até 20 meses, com impacto direto na redução da mortalidade e na necessidade de tratamentos mais agressivos.
“Diagnosticar mais cedo não é apenas salvar vidas, é também reduzir sofrimento, custos e desigualdades no acesso ao tratamento. O Brasil precisa estar inserido nesse debate global com dados próprios”, conclui.