O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, afirmou nesta quinta-feira, 18, que leis contra o discurso extremista serão ampliadas para mirar os “pregadores do ódio”, parte de uma nova iniciativa para combater o antissemitismo. O anúncio ocorre dias após um ataque a tiros matar 15 pessoas e deixar outras 25 feridas na praia de Bondi, em Sydney. Sajid Akram e Naveed Akram, pai e filho, foram apontados como autores do ataque. Eles foram baleados pela polícia. O primeiro não resistiu, enquanto o outro acordou de um coma e responderá a 59 crimes.
O plano de cinco pontos determina que o ministro do Interior, Tony Burke, receberá poderes para cancelar e rejeitar vistos de pessoas que disseminam “ódio e divisão”, além do fim ou bloqueio do financiamento de projetos artísticos e de pesquisa que apoiam “atividades antissemitas”. A proposta prevê, ainda, ideia de revogar a cidadania de pessoas com dupla nacionalidade que se envolvam em atividades terroristas e a suspensão da emissão de vistos para moradores de “enclave terrorista”, o que inclui a Faixa de Gaza.
“Houve organizações que qualquer australiano olharia e diria: seu comportamento, sua filosofia e o que elas estão tentando fazer visam à divisão e não têm lugar na Austrália”, disse Burke ao defender o pacote. “E, no entanto, durante uma geração, nenhum governo conseguiu tomar medidas eficazes contra eles porque ficaram um pouco abaixo do limite legal. Hoje, estamos anunciando que estamos alterando esse limite.”
Além disso, o documento propõe que pregadores e líderes que promovam violência através de discursos intolerantes respondam a crime agravado e a inclusão do ódio como fator agravante na sentença de crimes por ameaças e assédio online, bem como o aumento das penas. Em paralelo, o governo federal também reexamina as leis de armas do país.
Nos últimos 16 meses, a Austrália registrou uma onda de ataques contra a comunidade judaica, o que levou o chefe da principal agência de inteligência do país a declarar o antissemitismo como principal prioridade em termos de ameaça à vida. Após o atentado em Bondi, Albanese disse que “é claro que sempre se poderia ter feito mais” e que “governos não são perfeitos”, acrescentando: “Eu não sou perfeito”.
Em resposta à declaração do premiê, a líder da oposição, Sussan Ley, afirmou que “mais deveria ter sido feito” após os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023. Ela instou o primeiro-ministro a convocar o Parlamento na próxima semana para que as leis sejam aprovadas antes do Natal. Albanese, por sua vez, disse que as mudanças são “complexas” precisam ser redigidas para que consigam resistir a contestações judiciais, embora não tenha descartado chamar o legislativo no verão. Ele também indicou que queria garantir “amplo apoio em todo o parlamento”.
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O que se sabe sobre o ataque?
Pai e filho teriam atirado contra centenas de pessoas no festival de Hanukkah, celebração judaica, durante cerca de 10 minutos. Além das vítimas fatais, ao menos 25 pessoas ficaram feridas e recebem atendimento médico em hospitais em Sydney. A polícia também encontrou um veículo, registrado em nome do jovem, com artefatos explosivos improvisados e duas bandeiras caseiras associadas ao Estado Islâmico.
“Os primeiros indícios apontam para um ataque terrorista inspirado pelo Estado Islâmico, supostamente cometido por um pai e um filho”, afirmou a Comissária da Polícia Federal Australiana, Krissy Barrett, em coletiva. “Essas são as supostas ações daqueles que se aliaram a uma organização terrorista, não a uma religião.”
Sajid foi desarmado em um ato nobre e corajoso do civil Ahmed al Ahmed, um muçulmano de 43 anos e pai de dois filhos. Ele foi reconhecido como herói mundo afora, incluindo por líderes internacionais, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Uma vaquinha online para Ahmed arrecadou mais de A$ 1,9 milhão (mais de R$ 6,8 milhões).