Nesta quarta-feira, 16, o presidente Lula verbalizou sua frustração com a dificuldade de avançar no acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Em tom de ultimato, afirmou: “se o tratado não for assinado agora, dificilmente o Brasil voltará a colocá-lo sobre a mesa enquanto ele estiver no Planalto”.
Para um negociador veterano, acostumado a lidar com a lentidão europeia, a paciência parece ter se esgotado. “Faz 26 anos que a gente espera esse acordo, e ele é mais favorável para eles do que para nós”, disse o presidente, ao atribuir o impasse à resistência de Itália e França, motivada, segundo ele, por problemas políticos internos
Do lado europeu, os sinais são pouco animadores. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, classificou o acordo como “prematuro”, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, elevou o tom ao afirmar que a França se oporá “veementemente” a qualquer tentativa de aprovação forçada pelas instituições europeias. A justificativa oficial é conhecida: a proteção do setor agrícola, altamente subsidiado e politicamente sensível.
A divisão expõe uma rachadura dentro do bloco. Países como Alemanha e Espanha pressionam por uma aprovação rápida, enxergando no Mercosul uma oportunidade estratégica para diversificar mercados, reduzir a dependência da China e Estados Unidos. Outros, liderados pela França e agora reforçados pela Itália, Polônia e Hungria, veem no acordo um risco.
O acordo criaria a maior zona de livre comércio do mundo, conectando dois blocos que juntos respondem por cerca de um quarto do PIB global. Para a Europa, abriria espaço para exportações de automóveis, máquinas, produtos químicos, vinhos e bebidas; para o Mercosul, facilitaria o acesso de commodities agrícolas e minerais a um dos mercados mais ricos do planeta.
O tempo, porém, joga contra. Autoridades europeias alertam que não assinar o acordo até o fim deste ano – como previsto para sábado, 20 – pode desfazer anos de trabalho diplomático. A presidência rotativa da UE mudará de mãos: Chipre e Irlanda, que assumem o comando em seguida, são vistas como menos inclinadas a priorizar o tratado do que a Dinamarca. Empurrar a decisão para janeiro pode, na prática, significar enterrá-lo.