A líder da oposição da Venezuela, María Corina Machado, deixou Oslo, na Noruega, onde participou de uma cerimônia para receber o prêmio Nobel da Paz de 2025, informou o seu partido nesta quarta-feira, 17. Ela não aparecia em público desde janeiro, quando participou de um protesto em Caracas contra a vitória eleitoral autoproclamada do ditador Nicolás Maduro. María Corina conseguiu driblar as proibições de viagem do regime chavista para o evento na capital norueguesa. Seu paradeiro é desconhecido por razões de segurança.
A opositora de Maduro ganhou o Nobel da Paz em outubro “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. Na época, ela dedicou o prêmio ao presidente dos EUA, Donald Trump, que não escondeu o desejo de receber a láurea, pelo “apoio decisivo” à sua causa. Questionada se apoiaria um ataque americano à Venezuela, María Corina desconversou e citou invasões russas, iranianas e de cartéis de drogas ao país.
A opositora de Maduro não conseguiu chegar a Oslo para uma coletiva de imprensa na última quarta-feira, 10, levantando dúvidas se conseguiria chegar ao local em meio às proibições de viagens impostas contra ela pelo regime chavista há uma década. Ela, contudo, chegou no dia seguinte. Ao receber a láurea na última quinta-feira, 11, prometeu levar o prêmio de volta para o seu país natal.
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Epopeia rumo a Oslo
Em entrevista à emissora britânica BBC, o organizador da viagem contou o périplo que foi transportar María Corina até a capital norueguesa. O líder da chamada “Operação Dinamite Dourada”, referência ao fato de que Alfred Nobel inventou a dinamite, foi Bryan Stern, ex-militar das forças especiais dos Estados Unidos e fundador da Grey Bull Rescue Foundation, uma organização composta somente por veteranos.
A viagem, segundo ele, envolveu duas embarcações, disfarces para driblar identificação biométrica e ondas de até três metros durante a travessia do oceano. Tudo foi financiado, frisou, por doadores privados, e não pelo governo americano. Stern contou à BBC que tudo começou com o traslado de Machado por terra de uma casa onde ela estava escondida até o ponto de embarque.
De lá, ela seguiu em um pequeno barco até uma segunda embarcação, maior, já em mar aberto, onde o ex-militar a encontrou. Segundo ele, o trajeto ocorreu em “escuridão total”, com chuva forte, frio e comunicação feita por lanternas.
O resgate enfrentou mares “muito agitados”, com ondas de até 3 metros, condição que, segundo Stern, acabou ajudando a reduzir o risco de detecção. Depois de chegar à costa, Machado foi levada até o avião que a transportou para a Noruega. Parte dos venezuelanos que ajudaram no esquema, afirmou ele, trabalhou sem sequer saber o objetivo da operação.
Na Noruega, foi avaliada no Hospital Universitário Ullevål, onde os médicos identificaram múltiplos ferimentos, incluindo a fratura em uma vértebra da coluna causada durante a fuga. A extensão dos danos levou a líder oposicionista a prolongar sua estadia no país enquanto aguarda recomendações médicas sobre o tratamento.
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Quem é María Corina Machado?
Ao longo da carreira política, Machado denunciou sistematicamente as violações de direitos humanos, a corrupção e a deterioração das instituições democráticas na Venezuela. Ela fundou o partido Vente Venezuela em 2013, sigla de orientação liberal-econômica que se tornou sua principal plataforma política. Seu estilo confrontacional, a rejeição absoluta ao modelo socialista e sua recusa em negociar com o governo a diferenciaram de outros líderes da oposição mais moderados.
Diante da impossibilidade de concorrer às eleições no ano passado, ela usou sua capacidade de mobilizar milhões de venezuelanos, incluindo a diáspora, para apoiar a candidatura de Edmundo González Urrutia, mantendo seu papel de líder moral e estrategista da campanha da oposição. O regime declarou a vitória de Maduro, apesar das evidências contrárias e das amplas acusações de fraude.
Hoje, Machado é uma figura profundamente polarizadora na Venezuela. Para seus seguidores, ela representa a resistência incorruptível à ditadura, uma líder corajosa disposta a sacrificar tudo pela democracia. Seus opositores, por outro lado, apontam-na como representante da elite econômica desconectada das necessidades do povo e a acusam de promover posições políticas extremas.
O Nobel da Paz é concedido a pessoas ou organizações que tenham “realizado o maior ou o melhor trabalho em prol da fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução de exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz”, como indicou o fundador do troféu, Alfred Nobel, no seu testamento em novembro de 1825.