A maioria das pessoas em todo o mundo viveu em pequenas comunidades até o século XIX e, a partir da Revolução Industrial, muitas delas começaram a se mudar para as cidades. Ainda assim, em 1960, dois terços da humanidade ainda se concentravam em áreas rurais. Essa realidade mudou em 2007, quando, pela primeira vez, a população urbana ultrapassou a do campo, de acordo com a Organização das Nações Unidas e o Banco Mundial. Hoje, temos 57% da população do planeta nos grandes centros e, em 2050, a estimativa da ONU é de que esse percentual avance para 68%.
No Brasil, o último Censo do IBGE apontou que a zona rural perdeu 4,3 milhões de moradores entre os anos de 2010 e 2022, enquanto as cidades ganharam 16,6 milhões. Em muitos casos, nos deparamos ainda com as megalópoles e cidades adjacentes. A Grande São Paulo, a região metropolitana de Campinas e a Baixada Santista somam, juntas, mais de 27 milhões de pessoas e superam os 21 milhões de residentes de Minas Gerais. Algo semelhante é observado na região de Guangdong, na China, que de Macau a Guangzhou reúne onze cidades e mais de 70 milhões de habitantes, 2 milhões de pessoas a mais que a população do Reino Unido.
Esse avanço urbano não veio sem consequências. Com mais indústrias instaladas, mais veículos em circulação e cidades cada vez mais rodeadas de construções, volumes crescentes de carbono passaram a ser liberados na atmosfera, o que acelerou o aquecimento global, um dos principais desafios climáticos da atualidade. Como consequência desse movimento, acompanhamos a chegada de eventos cada vez mais extremos que geram prejuízos severos às pessoas e aos negócios, inclusive no Brasil, até então tido como um país menos exposto a catástrofes – as fortes chuvas no litoral Norte de São Paulo, as enchentes no Rio Grande do Sul, a estiagem severa no Centro-Oeste e os recentes tornados no Paraná não negam. Estamos diante de um cenário que, além de preocupante, nos força a buscar uma solução rápida. Não há escolha: precisamos agir ou pagaremos um preço ainda mais alto. E a realização da COP30 no Brasil reforçou ainda mais essa urgência.
Entretanto, as mudanças climáticas não estão relacionadas somente aos eventos extremos. Elas são parte de uma questão que inclui também a natureza do desenvolvimento urbano e, por isso, as cidades e as megalópoles precisam adaptar a sua infraestrutura e planejamento urbano para essa realidade. Londres, por exemplo, sofre com o superaquecimento no verão, mas gerencia bem as inundações. Independentemente de como o clima possa se materializar daqui em diante, cada comunidade deve achar o seu caminho. Neste quebra-cabeça, cresce a necessidade do seguro, setor que historicamente está a um passo à frente das mudanças globais ao antecipar tendências e oferecer proteção diante de riscos cada vez mais complexos. À medida que as cidades se expandem e os eventos climáticos se intensificam, o seguro se torna um elemento essencial na garantia da resiliência econômica e social, temas altamente ligados ao impacto ambiental. Hoje, a adaptação é uma questão de sobrevivência e, por isso, buscamos liderar a transição rumo a um modelo de negócios mais sustentável, seja com produtos estruturados e com medidas preventivas que fortaleçam a sociedade. Para além de indenizar perdas, o mercado segurador assume agora um papel muito mais proativo no desenvolvimento à resiliência.
Por meio de análises preditivas, incentivos à adoção de práticas sustentáveis e exigência de padrões mais seguros em construções e operações, buscamos reduzir as vulnerabilidades e colaborar para que as cidades tenham menos prejuízos com eventos climáticos extremos ou se recuperem mais facilmente quando eles acontecem. Essa abordagem proativa transforma o seguro em um agente de adaptação às mudanças climáticas, estimulando investimentos em infraestrutura resiliente e soluções inovadoras. É claro que, apesar da sua importância, o setor não deve agir de maneira isolada, e sim com o apoio dos governos, das empresas e da própria sociedade. O trabalho deve ser mútuo.
Em um mundo onde os eventos extremos são cada vez mais frequentes, a adaptação e a mitigação deixam de ser vantagens e passam a responsabilidades para garantir a continuidade das cidades e das economias. Estar preparado é uma necessidade para enfrentar um futuro marcado por incertezas e a resiliência não será obra do acaso, mas da nossa capacidade de agir agora.
*Eduard Folch é presidente da Allianz Seguros