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Recircula Brasil aposta em rastreabilidade para estruturar a economia circular do plástico no país

O Brasil enfrenta o desafio de transformar a economia circular do plástico em uma prática estruturada, confiável e mensurável. Nesse cenário, o Recircula Brasil surge como uma iniciativa pioneira de rastreabilidade e certificação, capaz de articular indústria, cooperativas, recicladores e poder público em um mesmo sistema baseado em dados auditáveis.

Segundo Paulo Teixeira, presidente-executivo da ABIPLAST, “O Recircula cria as condições para que a circularidade deixe de ser discurso e passe a ser comprovada ao longo de toda a cadeia produtiva”.

Na entrevista a seguir, ele detalha como a plataforma contribui para reorganizar a cadeia de reciclagem no país, oferece segurança jurídica e transparência para empresas, apoia a formulação de políticas públicas e ainda fortalece a imagem da indústria do plástico perante consumidores, mercados internacionais e governos.

1) Como o senhor descreve o papel do Recircula Brasil dentro da agenda nacional de economia circular?

O Recircula Brasil atua como um programa de rastreabilidade e verificação da economia circular no país, fornecendo dados confiáveis, garantindo segurança jurídica, combatendo o greenwashing e permitindo comprovar o uso de conteúdo reciclado em produtos plásticos. Isso é essencial para transformar compromissos legais e voluntários em resultados mensuráveis.

Ao organizar dados, padronizar evidências e oferecer segurança técnica e jurídica à comprovação da circularidade ao longo da cadeia produtiva, o programa cria condições para que a indústria avance de forma alinhada às políticas nacionais, como a Estratégia e o Plano Nacional de Economia Circular, a Nova Indústria Brasil, o novo decreto de logística reversa de embalagens plásticas e a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Com essa estrutura, o Recircula viabiliza a transição do modelo linear para ciclos produtivos regenerativos, nos quais o plástico retorna ao processo produtivo como recurso. Consolida-se, assim, como um instrumento central da agenda nacional de economia circular, permitindo decisões baseadas em dados e promovendo um mercado mais transparente, eficiente e sustentável.


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2) Em que medida o programa pretende reorganizar a cadeia de reciclagem no país?

O programa estimula a formalização e a organização da cadeia da reciclagem, dando visibilidade e valor a quem opera de forma regular. Ao padronizar métricas e garantir rastreabilidade com dados confiáveis, verificados por terceira parte, o Recircula cria um ambiente mais previsível e profissionalizado, favorecendo investimentos, aumento de capacidade e ganho de escala.

Além disso, integra os diferentes elos da cadeia, desde a comercialização do resíduo até sua reintrodução em novos produtos com conteúdo reciclado. Isso facilita relações comerciais, agrega valor à matéria-prima e ao produto final, amplia a competitividade do setor e reduz assimetrias de informação que hoje dificultam o desenvolvimento da reciclagem no país.

As informações geradas também permitem contribuir com o poder público na formulação de políticas de economia circular, ao indicar quais tipos de plásticos estão sendo reinseridos no processo produtivo e quais regiões concentram maior ou menor oferta de resíduos e de material reciclado.

3) Quais indicadores concretos já foram definidos para medir o impacto do Recircula Brasil nos próximos 5 a 10 anos?

O mercado de embalagens plásticas sujeito à obrigatoriedade de uso de conteúdo reciclado supera 2,5 milhões de toneladas anuais. O Recircula Brasil é o sistema apto a consolidar, mapear, rastrear e certificar essas informações, fornecendo dados lastreados para a comprovação do cumprimento das metas.

Com a participação de toda a cadeia de fornecimento, o programa permitirá mensurar o volume efetivo de conteúdo reciclado certificado, a ampliação da participação de cooperativas, recicladores, transformadores e marcas usuárias de embalagens, além do crescimento da capacidade de reciclagem no país.

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Dessa forma, cria-se uma base objetiva e contínua para medir o avanço da circularidade e o atendimento às metas nacionais, em um contexto de crescente demanda do mercado por produtos com rastreabilidade e compliance, inclusive em setores sem obrigatoriedade legal.


4) Como integrar reciclagem mecânica e química considerando custo, escala e aceitação regulatória?

A reciclagem mecânica é hoje a principal rota de circularidade no país, responsável por mais de 1 milhão de toneladas de resinas PCR produzidas anualmente, com viabilidade técnica, escala e competitividade econômica. A reciclagem química surge como complemento importante, ao oferecer alternativa mais circular para o rejeito plástico, embora ainda esteja em desenvolvimento tecnológico no Brasil, com custos mais elevados.

Para que ambas avancem de forma estruturada, é fundamental garantir rastreabilidade e comprovação do conteúdo reciclado ao longo de toda a cadeia produtiva, papel para o qual o Recircula Brasil está preparado.

Também é necessário que os órgãos regulatórios avancem na adoção das melhores práticas internacionais, especialmente em setores onde já há comprovação científica de segurança sanitária. A harmonização regulatória baseada em evidências permitirá ampliar mercados e acelerar a integração dessas tecnologias.

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5) Como o Recircula Brasil articula prefeituras, cooperativas e empresas diante da limitação da coleta seletiva?

O escopo do Recircula Brasil atua no estágio posterior à coleta, rastreando a transformação do resíduo coletado em novos produtos e contribuindo para o fechamento do ciclo da economia circular.

Por meio das comprovações de aquisição de resíduos e da venda dos materiais reciclados, o sistema gera informações qualificadas sobre quem está destinando os resíduos e qual é o destino efetivo ao longo da cadeia. Essa granularidade permite avaliar impactos ambientais positivos por município e oferece subsídios técnicos para a reestruturação de políticas públicas locais.


6) O programa contempla mecanismos de transparência, certificação ou monitoramento digital?

Sim. O Recircula oferece rastreabilidade completa a partir dos dados inseridos pela indústria, com verificação fiscal e de resultados homologada pelo Ministério do Meio Ambiente e auditoria independente realizada por terceira parte. Esses mecanismos transformam baixa rastreabilidade e informalidade em processos auditáveis e transparentes, com segurança técnica e jurídica.


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7) A indústria do plástico está preparada para a expansão da REP? Como o Recircula contribui?

O Recircula Brasil contribui para a adaptação da indústria à expansão da Responsabilidade Estendida do Produtor ao fornecer evidências por meio da certificação do conteúdo reciclado, reduzindo riscos para produtores e permitindo o cumprimento automatizado de obrigações legais e compromissos voluntários.

Durante a COP30, o programa foi anunciado como a plataforma nacional que atuará em diferentes setores com objetivo de REP, padronizando informações e controles.

8) Quais foram os maiores desafios de governança e alinhamento entre atores tão distintos?

Um dos principais desafios foi agregar informações de uma cadeia complexa, marcada por falta de padronização de dados e elevada informalidade. O Recircula atua como ferramenta de governança ao definir padrões e critérios para toda a cadeia.

Para comprovar conteúdo reciclado e atuar em conformidade, fornecedores precisam adequar práticas comerciais, como emissão correta de notas fiscais e conformidade legal. Outro desafio central é garantir segurança jurídica e compliance das informações, preservando dados com rigor e confiabilidade para reduzir riscos e evitar questionamentos futuros.


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9) Como o Recircula Brasil dialoga com políticas públicas existentes?

A iniciativa está alinhada ao Decreto nº 12.688/2025, que regulamenta a logística reversa do plástico, e aos planos do governo federal de atualização de decretos de outros materiais. A criação da empresa pública e a homologação pela Central de Custódia apontam para integração direta com políticas públicas em diferentes níveis.

Reconhecido pelo PNUMA como modelo de excelência no combate à poluição plástica, o Recircula é a primeira plataforma brasileira a certificar efetivamente a circularidade do plástico reciclado, com base tecnológica alinhada aos padrões de Monitoramento, Relato e Verificação e às metas climáticas do Brasil no Acordo de Paris.


10) Qual é o modelo de financiamento do Recircula Brasil?

O programa foi desenvolvido em parceria com a ABDI e, neste primeiro momento, conta com recursos subsidiados. A longo prazo, o uso da plataforma será pago pelos usuários com base no volume de material operado e certificado, garantindo proporcionalidade de custos e evitando impacto desproporcional sobre consumidores ou atores mais frágeis da cadeia.

11) Como o Recircula Brasil pode reposicionar a imagem da indústria do plástico?

O Recircula permite que a indústria comprove de forma concreta seu compromisso com a circularidade, fortalecendo sua credibilidade perante consumidores, governos e mercados internacionais e combatendo o greenwashing.

Embora tenha sido criado pelo próprio setor plástico em parceria com a ABDI, o programa foi concebido desde o início para ser utilizado no gerenciamento de todos os resíduos da economia. Esse modelo representa um avanço na política pública, ao combinar iniciativa privada, parceria com o poder público e uma ferramenta que se torna pública e disponível para toda a sociedade.

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