O Estreito de Ormuz, uma importante rota marítima que conecta o Golfo Pérsico com o Golfo de Omã e o Mar Arábico, entrou nos holofotes na última semana devido à guerra entre Irã e Israel. Considerada a porta de entrada para o transporte de petróleo “mais importante do mundo”, segundo a Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos, está sob controle iraniano – e o regime dos aiatolás fez sucessivas ameaças de restringir ou fechar completamente a passagem diante dos ataques israelenses, o que enviaria doloridas ondas de choque pelo comércio planeta afora.
O impacto global mais imediato é no preço do petróleo. O tipo Brent, referência de preço, subiu 7% em 13 de junho, dia dos primeiros ataques israelenses. O custo para enviar combustíveis do Oriente Médio para o Leste Asiático subiu quase 20% em três sessões até segunda-feira, informou a Bloomberg, citando dados da Baltic Exchange. As tarifas para a África Oriental, por sua vez, aumentaram mais de 40%.
Ameaça e tensão
Cerceado por sanções econômicas, o Irã é apenas o nono maior produtor, mas controla o Estreito de Ormuz, ponto de passagem de um quinto dos navios-petroleiros do planeta. Qualquer bloqueio da hidrovia, que Esmail Kosari, chefe do comitê parlamentar de defesa e segurança nacional iraniano, disse considerar “seriamente”, pode desencadear uma forte alta nos preços do petróleo bruto e afetar duramente os importadores de energia, especialmente na Ásia.
Em seu ponto mais estreito, a hidrovia tem apenas 33 quilômetros de largura, tornando-a congestionada e perigosa. Fluem por lá grandes volumes de petróleo bruto extraídos por países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque. Estima-se que cerca de 20 milhões de barris de petróleo passem diariamente pela rota.
Ainda não houve grandes ataques à navegação comercial na região, mas os armadores estão cada vez mais cautelosos em usar a hidrovia, com alguns navios reforçando a segurança e outros cancelando rotas para lá, informou a agência de notícias The Associated Press. Na terça-feira 17, uma colisão envolvendo dois petroleiros perto do Estreito de Ormuz aumentou as tensões, embora os Emirados Árabes Unidos tenham atribuído o incidente a erros de navegação, sem relação com o conflito.
Quem seria mais afetado?
A Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos estima que 82% dos embarques de petróleo bruto e outros combustíveis que passam pelo estreito vai para a Ásia.
China, Índia, Japão e Coreia do Sul foram os principais destinos – esses quatro países juntos respondem por quase 70% de todo o fluxo. Esses mercados provavelmente seriam os mais afetados por um bloqueio em Ormuz.
Se o Irã der o passo cabal, isso pode atrair uma intervenção militar dos americanos, que já flertam com o envolvimento direto na guerra. A Quinta Frota dos Estados Unidos, baseada no vizinho Bahrein, tem a tarefa de proteger a navegação comercial na área.
Qualquer ação do Irã para interromper o fluxo de petróleo pela hidrovia também pode comprometer seus laços com o Golfo Árabe, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos — países com os quais o Irã tem aprimorado meticulosamente as relações nos últimos anos. Por enquanto, essas nações se ativeram a críticas contra Israel pelos ataques a território iraniano, mas uma ameaça às suas exportações de petróleo pode pressioná-los a se posicionar contra o regime dos aiatolás.
Ainda assim, fechar a passagem seria uma aposta arriscada, uma vez que Teerã também depende do Estreito de Ormuz para exportar petróleo e gás aos seus clientes – com as sanções ocidentais, a maioria vai para a China.
Alternativas ao Estreito de Ormuz
Países do Golfo Árabe têm buscado rotas alternativas para contornar o estreito nos últimos anos. Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos criaram infraestruturas para transportar parte de seu petróleo bruto por outros caminhos.
Os sauditas, por exemplo, operam o Oleoduto Leste-Oeste com capacidade de 5 milhões de barris por dia, enquanto os Emirados Árabes têm um oleoduto que liga seus campos de petróleo em terra ao terminal de exportação de Fujairah, no Golfo de Omã.
A Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos estima que cerca de 2,6 milhões de barris de petróleo bruto por dia podem ser transportados em rotas que contornam o Estreito de Ormuz em caso de interrupções na hidrovia.