Os mercados vinham num modo blasé diante da política brasileira: olhar distante, zero emoção e aquela postura de “não vai ser agora que vocês vão me tirar do sério”. Fazia sentido — 2026 será um ano de incertezas, e a partir de março a volatilidade eleitoral viria de qualquer jeito. Então, por que antecipar o estresse? Pois bem, porque Brasília não perde uma chance de testar limites. E na sexta-feira o teste veio com força: a entrada — e saída (domingo)— e reentrada (segunda) de Flávio Bolsonaro na disputa pela Presidência.
Para analistas, o mercado já tinha até precificado a prisão e a condenação de Jair Bolsonaro. O investidor não piscou com o embate entre Senado e governo por causa de Jorge Messias no STF. Nem com a decisão de Gilmar Mendes sobre limites ao impeachment de ministros da Corte. Mas ontem ficou claro que essa paz era só aparente. A política voltou a influenciar o humor dos ativos. A bolsa caía com a ideia de uma candidatura “irreversível” de Flávio, até que um movimento inesperado virou o jogo: o anúncio de que o PL da dosimetria entraria em votação. O mercado leu o gesto como um acordo para abrir espaço à candidatura de Tarcísio de Freitas — e o Ibovespa reagiu imediatamente.
O pregão caminhava para um fim morno quando veio a cena decisiva: o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) ocupou a cadeira da presidência da Câmara em protesto. E bastou isso, dizem analistas, para o Ibovespa pisar no acelerador, numa síntese perfeita do dia: o investidor tentando decodificar Brasília em tempo real. E como se tudo isso não bastasse, ainda é semana de super quarta — com decisões de Fed e Copom sobre juros. Se o mercado que vinha blasé, agora tirou o casaco, arregaçou as mangas e sentou na primeira fila. Porque o ano que já ta no fim promete.