No ar em Guerreiros do Sol, novela do Globoplay, o pernambucano Thomás Aquino, de 39 anos, interpreta Josué Alencar, um homem que se torna cangaceiro após se interessar por Rosa (Isadora Cruz) ao mesmo tempo que coronel Elói (José de Abreu), que dá início a uma trama de assassinatos, vinganças, tragédia, e a luta para se viver um amor em tempos de guerra. Em entrevista a VEJA, o ator falou dos bastidores da novela, da construção do personagem que é uma releitura de Lampião.
Confira a entrevista completa:
Qual fator principal o atraiu ao papel de Josué? O que mais me fez querer interpretar ele de cara foi saber que ele é baseado em Virgulino Lampião. Para mim, enquanto nordestino, pernambucano, recifense, que ouvia muitas histórias sobre Virgulino, foi uma honra e uma emoção saber que eu poderia representar uma pessoa baseada nele. De cara, pensei: “Nossa, que orgulho e que bom que me escolheram!”. Fiquei feliz que pensaram em mim para o papel. E, quando eu comecei a ler os roteiros e vi o tamanho desse personagem, me lembrei de Lampião, e tive a sensação de que ele seria um dos maiores personagens da minha vida. Então, além do Josué ter uma história baseada em Lampião, que para mim é uma é uma das grandes figuras icônicas do nosso país, também fiquei animado em ser dirigido por Rogério Papinha, todo esse conjunto me cativou de imediato.
O cangaço já foi retratado em várias obras audiovisuais. O que Guerreiros do Sol tem de diferente? Apesar de contar uma história baseada na realidade, e trama fala de um amor em tempos de guerra. Isso é até um lema da nossa história. E vai mostrar o cangaço por um viés também voltado não só nesses homens, os irmãos Alencar, mas voltado principalmente na força de várias mulheres. A gente insere dentro nova novela temáticas feministas também, o que é muito importante e necessário para que a gente possa dialogar sempre. Temos uma personagem que se insere na política, outra que enfrenta um câncer de mama. Como lidar com um câncer de mama naquela época? Tem situações delicadas. E a história é narrada por Rosa (Isadora Cruz), que se torna uma potência no cangaço e para outras mulheres. E acho que a novela vai mostrar vingança, coragem, fraternidade, mas principalmente sobre como é viver um amor em tempos de guerra.
Vale a pena viver um amor em tempos de guerra? Eu acho que o amor deveria ser a arma principal. Eu acho que não deveríamos falar sobre armas mais. Isso pode ser muito clichê o que eu esteja falando. Mas acho que retratamos isso nessa novela, dessa força muito sobrenatural do ser humano, do amor de duas pessoas dispostas a lutar em guerras.
Por que acha que as histórias de cangaço são cativantes para o público? Eu acho que faz parte da nossa história, de quem somos como brasileiros. Por mais cruel que essa história tenha sido, acho que é importante falarmos sobre ela, para não que não se repita. Eu vejo isso muito das pessoas falando: “Ah, mas a escravidão, não vamos falar mais sobre isso”. Não, é aí que a gente tem que falar mesmo. A gente tem que falar das atrocidades que foram cometidas. Temos que falar da falta de respeito para com o ser humano. Então, o cangaço, querendo ou não, a ideologia do cangaço, eu acho interessante. Qual que era a ideologia? A ideologia era o viés de acabar com esse colonialismo. Com essa polícia corrupta que tinha dinheiro por mando dos coronéis e pegavam do povo, simplesmente a lei deles. O cangaço meio que surgiu para bater de frente com essa lei, para bater de frente com esse poder. Só que aí, claro, o poder quando sobe na cabeça dos homens vira o problema.
Como assim? Porque a gente começa a se sentir poderoso, superior até mesmo da lei. E aí começamos a criar as próprias leis. Então, é claro que o cangaço teve atrocidades, pessoas que se perderam no meio, estupros e violência. Mas por isso acho importante recontar essa história, para que ela não se repita.
Muitas produções sobre o Nordeste às vezes caem em estereótipos, gerando críticas do público. Como pernambucano, teve receio de que Guerreiros do Sol pudesse apresentar falhas desse tipo? Um dos criadores, o George Moura, é nordestino, então ele já tem um pensamento direcionado para não ir para os estereótipos. Ele escreveu junto com o Sergio Goldenberg. E o elenco também majoritariamente nordestino, o que fez com que não nos preocupássemos com alguém fazendo sotaque sem estudo, então esse conjunto já quebrou muitos dos estereótipos que pudessem ocorrer. Eu não vejo problemas de atores interpretando outras pessoas de outros estados, mas o estudo tem que ser levado a sério. Eu não posso interpretar um carioca sem estudar, porque senão cairia no lugar estereotipado. Então, ter esse elenco, esse autor, pesquisas e análises profundas fez com que a história ficasse muito real e latente.
Como foi sua preparação para o papel, aliás? Nós tivemos uma boa vivência lá no sertão, viajamos para as locações uns 20 dias antes de começar todo o processo para irmos absorvendo a história, conversando com as pessoas locais, estudando. E o elenco foi passando por tudo isso junto, tornando tudo muito orgânico.
A novela começa com uma sequência intensa de tiroteio entre o grupo de cangaceiros liderado por Josué e Idálio (Daniel de Oliveira) e seus capangas. Como foi fazer essas cenas de ação? Tivemos muitos ensaios para essas cenas de guerra e troca de tiros. Cheguei a passar mal com o calor, o figurino e as armas eram pesados e o sol muito quente. Mesmo bebendo muita água, era uma coisa surreal. Tivemos treinamentos com as armas, de movimentos, para aprender até como os cangaceiros andavam, como faziam para se proteger desse calor, o jeito de lutar. Foi muito mágico.
Além de Lampião, buscou referências em outras figuras do cangaço para construir sua forma de interpretar o Josué? Eu sempre empresto muito de mim para construir personagens, converso muito com o autor para entender como ele visualiza o papel em questão. O George e o Sergio me deixaram muito livre para que eu vivesse uma pessoa baseada na lenda de Lampião, mas eu não quis ser exatamente como ele. Não era para ser o Virgulino ali. Então, eu busquei fazer do Josué um cara íntegro, focado, alguém que é politicamente correto, que se desvirtua um pouco do seu propósito, mas depois se recupera com a ajuda da Rosa, que abre os olhos dele. O público pode dizer que eu não soube fazer o Lampião, que eu não soube imitá-lo, mas essa nunca foi a proposta. A ideia era fazer o meu próprio Lampião.
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