O Brasil está mais caro e politicamente mais complicado.
Governo, Congresso e Judiciário se acusam pelo desequilíbrio nas contas públicas que motiva o Banco Central a promover uma escalada de sete altas seguidas na taxa básica de juros num ambiente de investimento escasso e carga tributária elevada.
O aumento (para 15%) anunciado nesta quarta-feira é o segundo maior em duas décadas. O recorde do período (15,25%) é de Lula, também. Mas há uma diferença relevante entre as duas Selic: a alta taxa de maio de 2006 representava o oitavo corte seguido na Selic.
Na época, o BC era “dependente” do governo. Lula, que chegara a avaliar a hipótese de renúncia na crise do mensalão, estava a cinco meses da reeleição. Venceu o então adversário Geraldo Alckmin, no segundo turno, com quase 21 milhões de votos de vantagem. Naquele ano a economia cresceu em ritmo acelerado (4%), impulsionada pelo estímulo governamental ao consumo (5,3%).
Lula tenta repetir a fórmula. Em política tudo é possível, mas as circunstâncias são muito diferentes duas décadas depois.
O governo não consegue sair da armadilha do déficit crescente nas contas públicas. O Congresso e o Judiciário fingem que não têm nada com isso. E o Banco Central avisa: se mantido o descontrole fiscal, a taxa de juros vai continuar alta por um período “bastante prolongado”.
A ausência de ânimo político é perceptível em Brasília, que aderna numa espécie de estado de letargia institucional. Nas próximas três semanas, a Câmara, o Senado e tribunais superiores devem manter um feriadão informal. Tendem a emendá-lo com o “recesso” (férias) de julho. Governo, Congresso e Judiciário retornariam ao expediente “normal” em agosto.
É quando a oposição moderada prevê uma série de decisões legislativas para imobilizar o governo Lula, para não deixá-lo aprovar mais nada até o final da temporada eleitoral de 2026.
Se vai dar certo, nem os responsáveis sabem, mas a ideia dessa manobra nasceu de uma tese repetida com ironia em reuniões de líderes de bancadas no Congresso: “E no 30º mês, o governo Lula murchou…”