Meninas de dez, doze anos, já embrulhadas na cobertura que deixa apenas o rosto de fora, antecipando o que as espera pelo resto da vida, carregam maquetes de mísseis e de caixões com a bandeira de Israel. É uma cena chocante do passado recente que mostra o nível de fanatismo que é a doutrina oficial do regime iraniano – e como os Estados Unidos têm que agir de forma contundente se realmente for tomada a decisão de entrar no conflito para desmantelar o programa nuclear bélico dos aiatolás.
Diplomaticamente, não se avistam saídas e as declarações agressivas do líder supremo, título oficial do aiatolá Ali Khamenei, prometendo “consequências irreparáveis” aos interesses americanos, só confirmaram isso.
Trump está mantendo a doutrina da ambiguidade, também conhecida como tática do cachorro louco, como ao dizer que “ninguém sabe o que eu vou fazer, mas garanto que o Irã está encrencado”. Segundo múltiplas fontes, a decisão já está tomada e já foi comunicada ao comando militar.
Todo mundo já antecipa o que será – e as movimentações militares confirmam. A transferência para bases próximas do Irã de seis bombardeiros B-2, o avião em forma de morcego, prognostica a destruição das instalações nucleares no fundo de uma montanha em Fordo com a bomba de 13,6 toneladas que só ele transporta. O avião foi projetado para enganar radares, mas nem precisa disso. Israel já detonou as defesas antiaéreas do Irã e não perdeu uma única aeronave em seis dias.
‘TRABALHO MANUAL’
As plataformas de lançamento de mísseis, o único sistema bélico iraniano em operação, na falta do que fazer para as tropas terrestres, estão sendo progressivamente bombardeadas, o que diminui o risco para a população civil israelense e para as bases americanas em países vizinhos, como o Iraque, apesar de choques como o ataque de hoje contra um dos mais conhecidos hospitais israelenses, o Soroka, com dezenas de feridos.
Seria inteligente para o Irã provocar os Estados Unidos com um ataque desse tipo? Claro que não. Além disso, dariam a desculpa necessária, sem a qual os Estados Unidos agirão com poucos aliados e nenhum aval internacional, ao contrário do que fizeram os dois presidentes Bush, pai e filho, que procuraram o consenso da ONU ou de países importantes para, no primeiro caso, tirar o Iraque do Kuwait, e no, segundo tirar Saddam Hussein do Iraque.
Mas pessoas inteligentes são ofuscadas pelo fanatismo. Líderes militares e civis sabem perfeitamente as consequências de um ataque a bases americanas. Ou então vão pagar o preço pela falta de visão. Já se enganaram em relação a Israel e demonstraram uma vulnerabilidade enorme, sofrendo golpes devastadores.
Conseguiria Israel sem ajuda americana e a superbomba capaz de penetrar até 60 metros destruir os pontos mais importantes do programa nuclear? As instalações subterrâneas de enriquecimento de urânio em Natanz já foram atingidas. Em Fordow, não é impossível que, na falta de munição para conseguir isso, forças especiais venham a fazer o “trabalho manual” de explodir por terra. Parece uma opção extrema, de altíssimo risco, mas Israel não pode ter subestimado essa possibilidade.
Aliás, todas as possibilidades estão sendo levadas em conta e as forças israelenses estão bombardeando também os centros de documentação do programa nuclear iraniano. Sem contar o assassinato de cientistas nucleares. O jornalista Thomas Friedman escreveu no New York Times que Israel não joga pelas regras das convenções de Genebra, o que é verdade – joga pelas regras vigentes no Oriente Médio, contra inimigos do mesmo jaez. Mas também não está fazendo ataques indiscriminados e dirigidos contra a população civil, como faz o próprio Irã.
AVIÃO DO FIM DO MUNDO
Tem Israel condições de reverter um programa nuclear que estava a muito pouco tempo de enriquecer urânio na proporção necessária para produzir nove artefatos nucleares? E onde está o material físsil? Poderia o Irã produzir uma bomba suja ou receber ajuda para isso do único país que manifestou apoio a ele, o Paquistão?
São perguntas monumentais e as respostas estão em aberto. Inclusive para as pobres meninas doutrinadas desde pequenas a gritar “Morte a Israel” e “Morte à América”, como na foto acima. Elas também são vítimas de um regime que conseguiu provocar ataques diretos de Israel e possivelmente dos Estados Unidos ao mesmo tempo.
Para aumentar o nível de stress do planeta inteiro, o “avião do fim do mundo”, um Boeing E-4B adaptado para transportar o centro de comando dos Estados Unidos em caso de crise grave, pousou em Maryland, encostado em Washington. Ele tem condições de ser reabastecido no ar e voar por até uma semana sem pousar.
Só isso já dá uma ideia do poderio americano. Só podemos torcer que seja usado com sabedoria.