Quando assumiu em 10 de dezembro de 2023, após derrotar o peronista Sergio Massa no segundo turno, Javier Milei entrou no governo com dois compromissos centrais: controlar a inflação e zerar o déficit público.
Para isso, aplicou cortes drásticos no gasto estatal, paralisou obras, congelou salários e aposentadorias e reduziu subsídios.
O reflexo dessa política é visível nos números, com a inflação anual passando de mais de 200% para cerca de 30%, enquanto o risco-país caiu, abrindo caminho para o retorno da Argentina aos mercados internacionais.
Segundo projeções de analistas consultados pelo Banco Central argentino, a economia deve crescer cerca de 4,5% em 2025, com a inflação anual estimada em torno de 26% a 27%.
Dados oficiais indicam que o PIB cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao trimestre anterior, representando desaceleração em relação ao final de 2024.
A melhoria da inflação e o controle fiscal permitiram que o governo registrasse superávit nas contas públicas, com saldo positivo de aproximadamente 600 bilhões de pesos em janeiro de 2025.
No plano social, os números mostram avanços, ao menos segundo dados oficiais. A pobreza, que havia disparado desde a crise e a desvalorização do peso no início do governo, recuou de 52,9% no primeiro semestre de 2024 para 38,1% na segunda metade do ano.
Para muitos argentinos, essa queda representa um alívio após meses de aperto e incerteza.
Apesar desses sinais de melhora macroeconômica, a recuperação permanece desigual e marcada por fragilidades estruturais.
Críticos alertam que a austeridade imposta pelo governo teve um custo alto, com perda de renda real da classe média, retração do consumo, fechamento de pequenos negócios e forte migração para o emprego informal.
A indústria manufatureira e o setor de construção permanecem deprimidos, enquanto atividades ligadas à mineração, serviços financeiros e exportações crescem de forma significativa.
No plano internacional, o governo tenta reconstruir a confiança de investidores estrangeiros. Em 2025, a Argentina lançou sua primeira emissão de títulos soberanos em dólares em quase oito anos, uma medida para retornar aos mercados globais.
O acordo com o Fundo Monetário Internacional, parceiro histórico do país, continua sendo essencial para garantir liquidez e evitar uma nova crise de câmbio.
O FMI recomendou em dezembro de 2025 que o governo adote políticas mais agressivas de acumulação de reservas cambiais, alertando que o nível atual ainda é insuficiente para garantir estabilidade de médio prazo.
Politicamente, a base de apoio de Milei se manteve relativamente sólida.
Apesar das denúncias, dos cortes de benefícios e da deterioração de renda de muitos cidadãos, sua coalizão obteve resultados expressivos nas eleições legislativas de outubro de 2025, fortalecendo sua margem de manobra para a segunda metade do mandato. Para cidadãos comuns, o sentimento é ambíguo.
A Argentina de dezembro de 2025 vive um momento de tensão entre sinais macroeconômicos positivos e fragilidades estruturais profundas.
A inflação e o déficit estão sob controle, as contas públicas voltaram ao azul e há um tímido retorno ao crescimento e ao investimento externo.
Os ganhos, porém, não se traduzem de forma igualitária, com muitos empregos formais perdidos, consumo ainda fraco e peso vulnerável, limitando a recuperação de renda e qualidade de vida para grande parte da população.
O desafio que se impõe agora a Milei e seus aliados é transformar os ganhos momentâneos da estabilização em um crescimento robusto, inclusivo e sustentável, algo que até o momento segue distante de ser definitivo