Os últimos meses não deram trégua para um dos maiores museus do mundo. Após ter sido palco de um roubo histórico com prejuízo estimado em milhões de euros, o Louvre, na França, viu um vazamento de água danificar 400 livros raros no Departamento de Antiguidades Egípcias, segundo comunicado emitido nesta segunda-feira, 8, mesmo dia em que funcionários anunciaram uma greve planejada para a próxima semana.
Os textos datam do período entre o final do século XIX e início do XX, sendo relacionados à egiptologia e à documentação científica. De acordo com informações divulgadas pelo portal especializado em arte La Tribune de l’Art, o vazamento ocorreu no dia 27 de novembro, quando uma válvula pertencente a um sistema de encanamento desativado foi aberta por engano. A força da água teria sido tamanha a ponto de encharcar o carpete, infiltrar-se no andar de baixo e atingir um painel elétrico — o que poderia inclusive ter causado um incêndio.
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A publicação ainda afirma que o Departamento de Antiguidades Egípcias pediu, durante anos, para que o vice-diretor geral do Louvre, Francis Steinbock, tomasse providências a respeito de uma possível ruptura dos canos, que estavam em estado precário. Após o vazamento, a autoridade admitiu que os problemas eram antigos, mas informou que a tubulação só passará por modificações em setembro de 2026.
Anúncio de greve
Por si só, o episódio eleva o grau de complicações para a já combalida administração do Louvre. Mas o anúncio de uma greve por parte de representantes de três sindicatos piora o cenário para a diretora Laurence des Cars. Por meio de uma carta, as entidades trabalhistas afirmam que os funcionários estão sobrecarregados e sofrendo com a má gestão do museu. O texto reivindica mais contratações, aumentos salariais e uma reorientação do plano orçamentário.
“Os funcionários sentem que são a última linha de defesa antes do colapso (do museu)“, afirma a carta assinada pelos sindicatos e encaminhada ao Ministério da Cultura nesta segunda.
As entidades também se opuseram a um aumento de 45% no preço das entradas para turistas de fora da União Europeia. O plano havia sido anunciado em novembro pela gestão do museu para financiar um programa de modernização do Louvre com a receita extra, projetada entre 15 e 20 milhões de euros.
“Roubo do século”
Em outubro, o Louvre foi palco do que muitos já taxaram de “roubo do século”, quando uma quadrilha invadiu a Galeria de Apolo e roubou oito joias da coroa francesa, estimadas em 88 milhões de euros. Desde então, Laurence des Cars tornou-se alvo de críticas contumazes da população francesa, da polícia e do Tribunal de Contas, que concluiu em investigação que a administração do museu negligenciou gastos com segurança e infraestrutura em prol da compra de obras de arte extravagantes (das quais somente um quarto estão disponíveis para visitação no momento).
Des Cars assumiu o comando do Louvre em setembro de 2021. Ela veio do Museu d’Orsay e fez questão de expressar sua “decepção e surpresa” pelo estado no qual encontrou a instituição cultural mais visitada do mundo. A diretora reconheceu as falhas de segurança e chegou a oferecer sua renúncia, que a ministra da Cultura, Rachilda Dati, rejeitou. Em novembro, des Cars anunciou que o Louvre instalará 100 câmeras externas até o final de 2026.