Em julho, a D20 Culture, produtora brasileira especializada em jogos de tabuleiro e mercado geek, lançou uma campanha de financiamento coletivo para o primeiro “board game” baseado na trilogia de filmes de O Senhor dos Aneis. A campanha foi um sucesso e arrecadou R$ 563 mil reais, bem acima da meta original de R$ 400 mil. O jogo está sendo produzido e deve chegar aos apoiadores no ano que vem, mas a empresa já anunciou seu próximo lançamento: o RPG Justice League Unlimited, baseado nos personagens clássicos da Liga da Justiça, da DC Comics. O lançamento será global, tanto no mercado brasileiro quanto nos Estados Unidos.
O jogo é um RPG clássico, com livros, papeis e canetas. Nele, cada jogador interpreta um heroi das HQs, como Superman, Batman, Mulher-Maravilha e Lanterna Verde, entre vários outros. As aventuras envolvem confrontos com vilões e resgate de inocentes. “É um jogo que traz o heroísmo de volta. Abraçamos os clichês narrativos dos quadrinhos para que os personagens encarnem os herois, pensem nos outros e façam atos de altruísmo”, afirma Peterson Rodrigues, fundador e CEO da D20 Culture.
O lançamento será feito inicialmente com três produtos. O principal é o livro básico de regras, com tudo o que novos jogadores precisam para mergulhar nesse universo. Há ainda dois suplementos. O primeiro, Torre de Vigilância, explica em detalhes o funcionamento da Liga da Justiça Ilimitada e inclui aventuras para todos os níveis (ou “tiers”, como são conhecidos no jogo) de heróis. O segundo, Protocolo de Crises e Ameaças, inclui cenas rápidas, que podem servir para apresentar a mecânica para novos jogadores ou como parte de campanhas maiores, e dezenas de novas ameaças que devem ser enfrentadas pelos heróis. A campanha está aberta até o dia 12 de dezembro e já arrecadou R$ 250 mil – a meta original era R$ 100 mil. Os apoios começam em R$ 65, para uma versão em PDF do livro básico. O livro básico impresso custa R$ 220, e o pacote com os três livros, em versões impressas e em PDF, custa R$ 580. Todos foram feitos com ilustradores brasileiros.
O lançamento faz parte de um acordo da D20 Culture com a Warner. “Sempre quisemos um acordo global, mas Warner raramente faz algo do tipo. Começamos com o jogo do Senhor dos Aneis, e mostramos para eles o que éramos capazes de fazer em termos de uso da propriedade intelectual original, capilaridade de vendas”, diz Rodrigues. “Com o sucesso do jogo anterior, o time de franchising se sentiu seguro para nos dar sinal verde e o RPG da Liga da Justiça será um lançamento global”. A previsão de lançamento é em novembro de 2026. O prazo inclui a finalização dos produtos e a produção na China. “Lá é possível fazer um produto de alta qualidade e com custo mais acessível aos jogadores”, diz.
O jogo foi desenvolvido pelo time da D20. “Montamos duas equipes, uma focada em jogos de tabuleiro e outra em RPGs”, diz Rodrigues. O autor Lucas Conti, experiente no desenvolvimento de outros sistemas de interpretação de papeis, é o responsável pelo projeto, que contou ainda com um reforço importante. Mark Waid, um dos maiores roteiristas da DC Comics das últimas décadas, participou do RPG não apenas criando vilões novos, que posteriormente podem aparecer nos gibis, como supervisionando cada elemento para garantir que tudo está dentro do “cânone” da editora. “Ele contou que joga RPG há 30 anos e nunca haviam chamado ele para participar de um projeto do tipo. Foi a realização de um sonho”, afirma Rodrigues. Ele também deu pitacos em mecânicas e no balanceamento dos poderes dos personagens.
No mundo dos RPGs, super-herois já tiveram papel central em outros sistemas de regras. É o caso do clássico GURPS Supers, lançado pela Steve Jackson Games em 1989, e no sistema nacional 3D&T, inicialmente inspirado em herois japoneses, mas que ganhou diversas atualizações ao longo dos anos. Agora, o Justice League Unlimited quer aproximar os fãs dos gibis e dos filmes. “Essa sempre foi uma demanda da Warner. Eles queriam um título fácil de jogar, mas difícil de dominar”, diz Rodrigues. “Se alguém assistiu a um filme e quer jogar como Lanterna Verde, consegue participar de uma aventura em poucos minutos. Mas jogadores experientes também têm muito o que explorar no sistema de regras”, completa.
Além do lançamento inicial, a empresa já tem outros produtos planejados para os próximos anos. “Criamos um universo vasto, e o material inicial já permite que os jogadores criem aventuras por anos”, diz Rodrigues. “Mas há muito mais”. Isso inclui novos suplementos de aventuras, bem como títulos focados em aspectos específicos do universo DC, como o lado místico de Constantine, Etrigan e Zatanna, e os cenários cósmicos dos Novos Deuses de Jack Kirby (1917-1994). Tudo depende da aceitação dos primeiros livros.