O ministério das Relações Exteriores da China instou nesta segunda-feira, 8, os Estados Unidos a cessarem o apoio aos “separatistas” de Taiwan, ilha que Pequim reclama como parte do seu território. A declaração ocorre após um documento de Defesa Estratégica dos EUA divulgado pela Casa Branca na semana passada, definir a questão de Taiwan como prioridade máxima. Trata-se de uma nova jogada no instável tabuleiro político da região, já afetado pela escalada das tensões entre China e Japão.
Em coletiva, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, salientou que Pequim “sempre acreditou que a cooperação beneficia ambos os países e o confronto prejudica ambos”. Ele também disse que o respeito mútuo e a cooperação “são a única opção correta e realista” nas relações EUA-China e voltou a ressaltar que o gigante asiático “defenderá firmemente” sua soberania e seus interesses, em referência a Taiwan.
Guo frisou que a pequena nação insular é “parte inalienável” do território chinês e “a primeira linha vermelha que não pode ser cruzada” nos laços bilaterais. Talvez Washington não dê ouvidos. Na última sexta-feira, 5, os Estados Unidos declararam que prevenir um conflito no Estreito de Taiwan é uma prioridade máxima. Segundo a Estratégia de Segurança Nacional 2025, um ataque à ilha “deveria representar um custo muito alto para potenciais agressores”.
O documento reafirmou a política histórica americana de “rejeitar mudanças unilaterais ao status quo na região do Indo-Pacífico” e destacou a importância de “preservar a estabilidade regional por meio de uma combinação de prontidão militar, diplomacia estratégica e apoio aos aliados”. A competição com a China também é definida como um dos pilares dos EUA no exterior e, para isso, o fortalecimento das alianças regionais e planos de contingência para dissuasão são estratégias incontornáveis, acrescentou o relatório.
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Tensões com o Japão
No final de novembro, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, alertou que a primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, “cruzou uma linha vermelha” ao sugerir que um ataque a Taiwan poderia culminar numa resposta militar de Tóquio. Ele também adiantou que o governo chinês está preparado para “responder resolutamente” caso necessário e que todos os países têm a responsabilidade de “impedir o ressurgimento do militarismo japonês”.
“É chocante que os atuais líderes do Japão tenham enviado publicamente o sinal errado de tentar uma intervenção militar na questão de Taiwan, tenham dito coisas que não deveriam ter dito e cruzado uma linha vermelha que não deveria ter sido ultrapassada”, disse Wang, em referência à declaração da premiê japonesa a parlamentares no início de novembro.
A declaração seguiu uma carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na qual o embaixador chinês na ONU criticava a “grave violação do direito internacional” e das normas diplomáticas por Takaichi. O documento afirmava que “se o Japão ousar tentar uma intervenção armada na situação do Estreito, será um ato de agressão”, acrescentando: “A China exercerá resolutamente seu direito de autodefesa sob a Carta da ONU e o direito internacional e defenderá firmemente sua soberania e integridade territorial”.
Ainda em novembro, a China suspendeu importações de frutos do mar do Japão. A medida ocorreu meses depois de Pequim ter revogado parcialmente uma restrição anterior, emitida em 2023. Antes disso, o mercado chinês – incluindo Hong Kong – representava mais de um quinto das exportações japonesas. A imprensa japonesa informou que autoridades em Pequim teriam dito que a decisão estava relacionada à necessidade de monitorar melhor a qualidade da água, mas dado o contexto, foi interpretada como medida retaliatória.
Em meio à crise, a embaixada do Japão em Pequim fez um alerta de segurança aos cidadãos, afirmando que devem respeitar os costumes locais enquanto estiverem em solo chinês e tomar cuidado ao interagir com locais. A orientação é que viajantes estejam atentos ao seu entorno quando estiverem ao ar livre, não fiquem sozinhos e tenham cautela extra ao acompanhar crianças.
A China, por sua vez, desaconselhou viagens ao Japão. Mais de 10 companhias aéreas chinesas, como Air China, China Eastern Airlines e China Southern Airlines, ofereceram reembolsos para voos com destino ao Japão até 31 de dezembro, enquanto a Sichuan Airlines cancelou os planos para a rota Chengdu-Sapporo até pelo menos março, de acordo com a mídia estatal.