No apelo anual que projeta as necessidades de ajuda humanitária dos próximos doze meses, as Nações Unidas reduziram seu orçamento da área pela metade nesta segunda-feira, 8, devido à queda acentuada de doadores mundo afora. A organização pediu que o financiamento chegue a US$ 23 bilhões (cerca de R$ 124,7 bilhões, na cotação atual), admitindo que vai priorizar apenas os casos mais desesperados, deixando de fora dezenas de milhões de pessoas que precisam urgentemente de ajuda.
Os cortes nos fundos somam-se a outros desafios enfrentados pelas agências de ajuda humanitária, incluindo riscos de segurança para funcionários em zonas de conflito e falta de acesso a regiões vulneráveis.
“São os cortes que, em última análise, nos obrigam a tomar decisões difíceis e brutais. Estamos sobrecarregados, com financiamento insuficiente e sob ataque”, disse o chefe de ajuda humanitária das Nações Unidas, Tom Fletcher, a jornalistas. “Conduzimos a ambulância em direção ao incêndio, em nome de vocês. Mas agora também nos pedem para apagar o incêndio, e não há água suficiente no tanque. E estamos sendo alvejados.”
No ano passado, as Nações Unidas solicitaram cerca de US$ 47 bilhões para 2025 (quase R$ 255 bilhões) — um valor que foi posteriormente reduzido devido a cortes na ajuda externa promovidos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, bem como por outros grandes doadores, como a Alemanha.
Os números de novembro mostraram que a organização recebeu apenas US$ 12 bilhões (R$ 65 bilhões) até o momento, o menor valor em uma década, cobrindo pouco mais de um quarto das necessidades projetadas.
Regiões mais vulneráveis
O plano de US$ 23 bilhões para 2026 identifica 87 milhões de pessoas consideradas casos prioritários, cujas vidas estão em risco. No entanto, as Nações Unidas afirmam que cerca de um 250 milhões de pessoas precisam de assistência urgente, e que pretende atender a 135 milhões delas a um custo de US$ 33 bilhões — se houver recursos disponíveis.
A maior fatia do orçamento para o próximo ano, de US$ 4 bilhões, destina-se aos territórios palestinos ocupados, em especial para Gaza, devastada por dois anos de guerra entre Israel e o Hamas. O conflito deixou quase todos os seus 2,3 milhões de habitantes desabrigados e dependentes de ajuda externa.
Em segundo lugar está o Sudão, seguido pela Síria.
Fletcher afirmou que grupos humanitários enfrentam um cenário sombrio de fome crescente, disseminação de doenças e níveis recordes de violência.
“Estamos focados em salvar vidas onde os impactos são mais severos: guerras, desastres climáticos, terremotos, epidemias, quebras de safra”, disse ele.
As agências humanitárias das Nações Unidas dependem, em sua grande maioria, de doações voluntárias — em especial de países ocidentais, sendo os Estados Unidos, de longe, o maior doador histórico. Dados da organização mostram que Washington continuou a ocupar o primeiro lugar no ranking dos doadores em 2025, apesar dos cortes de Trump, mas que sua participação diminuiu de um terço do total para cerca de um sexto neste ano.