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Ao subir juros, BC surpreende metade do mercado e reforça rigor com inflação

Em um raro cenário em que os próprios analistas do mercado financeiro encontravam-se divididos entre a necessidade de subir mais ou deixar os juros brasileiros parados onde já estão, o Banco Central de Gabriel Galípolo, presidente indicado por Lula para a autarquia, escolheu seguir pelo caminho mais difícil. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC anunciou na noite desta quarta-feira, 18, mais um aumento na Selic, elevando a taxa básica de juros de 14,75% para 15%, maior patamar em duas décadas. A decisão A decisão teve apoio unânime de Galípolo e dos oito diretores do BC que formam o Copom ao lado dele.

O colegiado também já sinalizou que, ao menos por ora, as altas estão encerradas, e adiantou que deve manter a taxa inalterada em sua próxima reunião, em julho, depois de uma sequência de sete aumentos desde setembro do ano passado. Ainda assim, a decisão por um último aumento surpreendeu a muitos. Uma pesquisa divulgada pela manhã pelo banco BTG Pactual mostrou um mercado que estava dividido exatamente ao meio: de 76 analistas e economistas entrevistados durante a semana, 51% contavam com uma manutenção dos juros e 49% com uma nova alta. A opção pelo aumento, na visão desses mesmos analistas, também reforça o recado da autoridade de que está comprometida em cumprir a sua missão de levar a inflação de volta para a meta

“O fato de a decisão ter sido unânime tem grande importância, porque mostra que toda a diretoria está comprometida em trazer a inflação para a meta e não há nenhuma voz dissonante entre eles”, disse a VEJA Rogério Mauad, professor e especialista em mercado financeiro da escola de negócios Fipecafi. E colocar a inflação de volta na meta, destaca ele, não está sendo uma tarefa especialmente fácil: ela está rodando atualmente acima dos 5%, para uma meta que é de 3%, com tolerância máxima de 4,5%.

Pelas expectativas do mercado financeiro, acompanhadas semanalmente pelo BC por meio do Boletim Focus, só no final de 2026 a inflação deve ter conseguido voltar para os 4,5%, que é ainda o teto da meta. “Ao analisar o cenário interno [no comunicado], o Copom aponta que a inflação está custando a cair e, quanto mais ela custa em cair, mais prolongada deve ser a dose do remédio”, diz o professor da Fipecafi. “Então, o que o Copom está fazendo é dizer que as taxas permanecerão altas ainda por um bom tempo.”

“É um fechamento com chave de ouro”, escreveu o planejador financeiro Marcelo Bolzan, sócio do escritório de assessoria de investimentos The Hill Capital, a respeito deste que deve, por enquanto, ser o último aumento da Selic. “Os diretores do Banco Central poderiam já ter parado de subir o juros até porque o mercado estava dividido, e eles optaram por fazer esse novo aumento. É, sem dúvidas, um tom hawkish [duro]”.

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Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos, destacou que o tom firme pode, inclusive, ajudar o dólar a cair um pouco mais. “Foi uma decisão bastante dura, que deve inclusive ter efeitos nos mercados, como na valorização do real e, eventualmente, na redução das expectativas inflacionárias”, afirmou. “O Copom manteve um tom relativamente firme e reforçou a necessidade de uma política monetária restritiva por um período prolongado, com o objetivo de preservar a credibilidade da autoridade monetária e garantir a convergência das expectativas para o centro da meta de inflação.”

De acordo com os especialistas, com as dúvidas do que poderia acontecer agora já um pouco mais desanuviadas pelos recados deixados pelo BC, o caminho mais provável é que os juros sejam mantidos nos 15% até o fim deste ano, podendo começar a cair a partir do ano que vem. Até aqui, a visão dominante era de que a taxa chegaria ao fim de 2025 em 14,75%, conforme captado pelo Boletim Focus.

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