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Estudo mostra em que momento os humanos aprenderam a se mudar

Uma pesquisa publicada recentemente na revista Nature redefine a compreensão sobre como o Homo sapiens conseguiu se espalhar pelo mundo. O estudo aponta que o sucesso da dispersão para fora da África, que moldou a ancestralidade da maioria das populações euro-asiáticas há cerca de 50 mil anos, foi precedido por uma crucial expansão na capacidade de adaptação ecológica dos humanos dentro da própria África.

Essa descoberta sugere que a habilidade de se ajustar a uma vasta gama de ambientes, e não uma inovação tecnológica ou cognitiva repentina, foi o fator determinante para a ocupação do planeta por nossa espécie.

O registro genético indica que quase todas as populações humanas fora da África descendem de uma única onda de expansão que começou há aproximadamente 50 mil anos. No entanto, o registro fóssil revela migrações anteriores para fora do continente, como as que ocorreram no cinturão árido saaro-arábico há cerca de 125 mil anos. A questão central que a pesquisa buscou responder é por que essas dispersões iniciais não foram bem-sucedidas o suficiente para deixar uma contribuição genética detectável nas populações não africanas atuais, falhando em estabelecer assentamentos viáveis a longo prazo.

Para investigar o mistério, os pesquisadores construíram um extenso banco de dados pan-africano de sítios arqueológicos com datação cronométrica. Utilizando modelos de distribuição de espécies (SDMs), eles quantificaram as mudanças no nicho bioclimático humano ao longo dos últimos 120 mil anos. O nicho, nesse contexto, é definido como o conjunto de fatores bioclimáticos que permitem a uma espécie sobreviver e se reproduzir. Variáveis como o índice de área foliar, a amplitude térmica anual e os padrões de precipitação foram consideradas para reconstruir a adequação do habitat.

Os resultados demonstram que o nicho humano começou a se expandir significativamente a partir de 70 mil anos, com um pico de expansão por volta de 50 mil anos, coincidindo diretamente com as dispersões bem-sucedidas para fora da África.

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Essa expansão não foi meramente uma consequência das flutuações climáticas. Em vez disso, foi impulsionada por uma crescente capacidade dos humanos de utilizar diversos tipos de habitat, que variam de florestas densas a desertos áridos, especialmente nas regiões Oeste, Central e Norte da África. A pesquisa observou um aumento constante no uso de florestas e savanas entre 84 e 57 mil anos, e uma expansão estável no uso de desertos até cerca de 29 mil anos, quando houve outro aumento. Essa capacidade de se adaptar a ambientes com maiores amplitudes térmicas anuais e baixa vegetação foi fundamental para a ocupação de desertos. Uma segunda expansão do nicho foi identificada a partir de aproximadamente 29 mil anos, levando à ocupação de praticamente todas as regiões e ecossistemas africanos.

A flexibilidade ecológica única adquirida por esses humanos, permitindo-lhes prosperar em habitats tão variados quanto florestas equatoriais e desertos, forneceu um mecanismo chave para seu sucesso adaptativo ao enfrentar as desafiadoras condições climáticas encontradas durante a expansão para fora da África.

Ao contrário de teorias anteriores que sugeriam que inovações tecnológicas ou cognitivas súbitas impulsionaram essas migrações, o estudo indica que a complexidade de armamentos e comportamentos simbólicos já estava presente muito antes. Em vez disso, a pesquisa sugere que fatores demográficos, como crescimento populacional, aumento da densidade e maior conectividade através de redes sociais de longa distância, podem ter atuado como “fatores de pressão”.

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A instabilidade climática do período entre 70 e 50 mil anos, com repetidas transições entre períodos secos e úmidos, pode ter favorecido a evolução de um nicho mais amplo nos humanos, aprimorando sua capacidade de lidar com a diversidade de habitats.

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