O principal painel norte-americano responsável por orientar o calendário de vacinação decidiu, nesta sexta-feira, 5, flexibilizar uma das recomendações mais antigas da saúde pública dos Estados Unidos: a aplicação da primeira dose da vacina contra hepatite B logo após o nascimento. A mudança, aprovada por 8 votos a 3 pelo Comitê Consultivo para Práticas de Imunização (Acip), abriu a possibilidade de que pais posterguem a imunização de bebês cujas mães testaram negativo para o vírus.
Desde 1991, os EUA adotam a dose ao nascer como estratégia universal — política que, segundo estimativas, evitou cerca de 90 mil mortes ao longo de três décadas. A nova diretriz passa a classificar o procedimento como “decisão individual” nesses casos. Para recém-nascidos de mães infectadas, nada muda: a vacinação imediata continua obrigatória. A cobertura pelos planos de saúde também permanece garantida.
O que muda na vacinação
Pelo novo protocolo, se o bebê não receber a vacina ainda na maternidade, o início do esquema passará a ocorrer apenas aos 2 meses de vida. Infectologistas e sociedades médicas alertam que o intervalo maior pode estimular hesitação vacinal e reduzir a adesão ao calendário infantil, ampliando o risco de infecção.
A hepatite B é altamente transmissível por fluidos corporais e pode ser passada da mãe para o bebê no parto — muitas vezes sem sintomas aparentes. A Organização Mundial da Saúde recomenda a aplicação da primeira dose nas primeiras 24 horas de vida.
A votação foi antecedida por duas rodadas de adiamentos e audiências tensas. Integrantes favoráveis à mudança argumentaram que a transmissão neonatal é rara entre mães testadas e que a diretriz aproxima os EUA de países como o Reino Unido, onde o esquema começa às oito semanas. Mas o debate ganhou contornos políticos após a chegada de Kennedy ao comando do Departamento de Saúde, que substituiu todo o colegiado por profissionais alinhados a posturas mais céticas em relação às vacinas.
A decisão repercutiu no Congresso. O senador republicano Bill Cassidy, hepatologista e defensor histórico da imunização, criticou a revisão: “É um erro. A vacina é segura e eficaz. A dose ao nascer é uma recomendação, não uma imposição”, afirmou em nota.