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O impacto silencioso que explica o favoritismo de Lula

A política costuma ser ruidosa, mas há momentos em que o que realmente importa acontece longe do barulho. Enquanto Brasília se ocupa de crises entre poderes, disputas internas e falta descompasso entre governo e oposição, a economia brasileira atravessa uma combinação rara de indicadores positivos. Essa sequência cria o ambiente no qual a candidatura de Lula à reeleição não apenas se sustenta, mas ganha tração.

O dado mais simbólico dessa virada é a sanção da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A medida, que começa a valer em janeiro, deve retirar cerca de 10 milhões de brasileiros da cobrança do IR e reduz a carga para outros 5 milhões. É uma entrega concreta, de efeito imediato, em uma faixa de renda onde as pessoas sentem cada centavo. O ex-presidente Jair Bolsonaro prometeu algo parecido e não cumpriu. Lula prometeu e entregou. E fez isso diante de um Congresso hostil.

Ao mesmo tempo, o país atingiu a menor taxa de desemprego desde 2012, no início da série histórica, 5,4% (ainda que o número seja controverso) . Há mais de 102 milhões de brasileiros ocupados, um recorde, e o governo pode usar esse número. Também é recorde o número de trabalhadores com carteira assinada. Além disso, a massa salarial alcançou o maior patamar já registrado, um sinal evidente de que a recuperação do emprego não está restrita a postos somente precários. Há renda real circulando.

Esse movimento se reflete nos índices de pobreza. Mais de 8,6 milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza e a extrema pobreza caiu ao menor nível já medido. A desigualdade também recuou, com o menor índice em mais de uma década. Não é apenas uma fotografia conjuntural. É uma trajetória de melhora contínua desde 2022, quando o mercado de trabalho voltou a aquecer e os programas de transferência de renda foram reforçados.

A inflação, que por tanto tempo foi um adversário político, hoje trabalha a favor do governo. A projeção atualizada aponta para 4,43% ao fim do ano, dentro do limite da meta. Outubro registrou o menor índice para o mês em quase 30 anos. O ambiente de preços mais previsível devolve confiança ao consumo, especialmente entre as famílias de renda média e baixa, justamente aquelas que agora terão alívio no Imposto de Renda.

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Do outro lado da equação, o mercado financeiro opera em compasso de otimismo. A Bolsa brasileira fechou novembro no maior patamar da história, com alta superior a 32 por cento no ano. O dólar caiu quase 14% no mesmo período. Não é exatamente o retrato de um governo em conflito com investidores, apesar da narrativa repetida pela oposição.

O conjunto desses fatores, emprego alto, pobreza em queda, inflação sob controle, dólar mais baixo, Bolsa em recorde e isenção de IR para a imensa maioria dos assalariados, compõe um ambiente que favorece qualquer governo. E favorece ainda mais um governo que sabe explorar simbolicamente as entregas. Lula faz isso com naturalidade. Repete a frase sobre pouco dinheiro na mão de muitos e reforça a ideia de que as ações do Planalto beneficiam diretamente quem vive do próprio trabalho.

Faltam dez meses para a eleição, tempo suficiente para que muita coisa aconteça. Mas hoje o quadro é inequívoco. Lula entra na disputa amparado pelos melhores indicadores sociais e econômicos desde o início da década passada. E com uma entrega de forte impacto eleitoral que a oposição não conseguiu neutralizar, milhões de brasileiros que, a partir de janeiro, deixarão de pagar imposto de renda.

A aritmética eleitoral costuma ser implacável. E, neste momento, ela trabalha a favor do presidente.

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