O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, conseguiu aprovar, nesta sexta-feira, 5, uma polêmica reforma da previdência no Bundestag, apesar da resistência inédita dentro do próprio bloco conservador. A votação, com 318 votos a favor, dos 630 possíveis, garantiu a maioria absoluta sem depender de ajuda da oposição de esquerda, mas evidenciou a dificuldade de controlar sua instável coalizão.
O projeto, compromisso central da coalizão formada em maio, prevê aumento de cerca de 185 bilhões de euros nos gastos previdenciários ao longo dos próximos 15 anos e fixa o valor das aposentadorias em 48% do salário médio até 2031. A proposta era especialmente defendida pelo Partido Social-Democrata (SPD), mas enfrentou críticas de jovens parlamentares conservadores, que consideram o modelo financeiramente insustentável para as futuras gerações.
A tensão na base aliada ocorre em um momento de desgaste do governo. Desde que assumiu o cargo, Merz tem registrado dificuldades para controlar a coalizão — chegou a precisar de uma segunda rodada de votação para ser confirmado chanceler. Elogiado no exterior por sua postura firme no apoio à Ucrânia, ele enfrenta aprovação interna de cerca de 25%, uma das mais baixas entre chanceleres recentes.
Enquanto isso, o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) lidera as pesquisas desde agosto, com 26% das intenções de voto, e deve avançar nas cinco eleições estaduais do próximo ano.
A reforma alemã se soma ao debate crescente na Europa sobre a sustentabilidade dos sistemas previdenciários, pressionados pelo envelhecimento populacional e pelo aumento da dívida pública.
A votação sobre as pensões se tornou mais do que uma disputa fiscal. É um termômetro da capacidade de Merz de governar, impor disciplina interna e tocar reformas prioritárias num país que enfrenta simultaneamente estagnação econômica e a urgente modernização de suas Forças Armadas.