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Ciência, tecnologia e equidade no centro do debate sobre oftalmologia

Saí do último Encontro Anual da Academia Americana de Oftalmologia (AAO), realizado em Orlando entre os dias 17 e 20 de outubro, ainda mais convencido de que a oftalmologia se consolida, cada vez mais, como uma especialidade guiada por dados, tecnologia e equidade. Os milhares de especialistas, de todas as regiões do planeta, ali reunidos tiveram a oportunidade de conhecer o que há de mais avançado na área, hoje orientada por inteligência artificial, biomarcadores, plataformas digitais e decisões personalizadas. Ao mesmo tempo, todo o encontro foi marcado pela ideia de que as inovações só têm razão de ser quando, de fato, chegam a quem precisa de tratamento.

Pode-se dizer que o objetivo de integrar ciência, tecnologia e responsabilidade social foi o fio condutor que uniu as sessões científicas, os lançamentos da indústria e os debates sobre políticas públicas.

A inteligência artificial, como não poderia deixar de ser, foi um dos pilares da exposição tecnológica do congresso. Ganharam destaque as suas possibilidades de uso na triagem e no monitoramento remoto de pacientes, com algoritmos capazes de identificar sinais precoces de doenças graves, como glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular, mesmo em populações com acesso limitado a especialistas. Graças a essas ferramentas, exames realizados em clínicas locais ou com dispositivos portáteis podem ser avaliados à distância com alta precisão. Isso reduz a necessidade de deslocamentos, o que, para nós, que vivemos no Brasil, um país de dimensões continentais e de sensíveis assimetrias regionais, representa uma verdadeira revolução no acesso ao diagnóstico. A convergência entre a inteligência artificial e a telemedicina é hoje a melhor estratégia para democratizar o diagnóstico precoce e tornar o sistema de saúde ocular realmente mais eficiente e inclusivo.

É claro que a inteligência artificial não foi apresentada no AAO 2025 apenas como uma ferramenta de diagnóstico, afinal suas possibilidades são extraordinárias como elo integrador entre diversas frentes da inovação médica. Os algoritmos, ao cruzarem dados genéticos, farmacológicos e biotecnológicos, permitem uma compreensão mais profunda e personalizada do paciente, favorecendo decisões clínicas de alta precisão. Essa capacidade de reunir e interpretar múltiplas camadas de informação – desde variantes genéticas até padrões de resposta a medicamentos e imagens de retina – marca uma virada na oftalmologia contemporânea, que passa a operar sob os princípios da medicina de precisão.

A medicina translacional também foi tema de importantes debates no congresso como força motriz por trás de muitas das inovações apresentadas. Essa abordagem, que conecta descobertas científicas à prática clínica, esteve presente em tecnologias como algoritmos para triagem ocular, novos biomarcadores genéticos e avanços em cirurgia robótica. Esta última, aliás, atraiu grande interesse graças às aplicações que permitem um nível de personalização jamais visto no planejamento cirúrgico oftalmológico.

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Softwares avançados, integrados a plataformas de cirurgia robótica e a sistemas de imagem de alta precisão, possibilitam a criação de modelos tridimensionais do olho do paciente, simulando diferentes abordagens antes da intervenção. Esses sistemas automaticamente ajustam, em tempo real, os parâmetros da cirurgia, como profundidade de corte, localização exata e intensidade do laser, conforme a anatomia individual.

A combinação entre dados clínicos, inteligência artificial e robótica torna muito mais seguras, eficientes e personalizadas as intervenções cirúrgicas, adaptadas às necessidades específicas de cada paciente. Ao mesmo tempo, essas plataformas podem incorporar algoritmos de inteligência artificial que aprendem com milhares de casos anteriores, ajudando a prever riscos, a sugerir ajustes e até a antecipar complicações. Isso representa um avanço significativo rumo à cirurgia oftalmológica personalizada, baseada em dados e altamente assistida por tecnologia. Esse é apenas um dos exemplos de inovação, que ilustra muito bem a importância integrar os avanços de diversas frentes.

As subespecialidades da oftalmologia também tiveram papel central no AAO 2025, refletindo a complexidade e a sofisticação crescentes da prática clínica: terapias emergentes para degeneração macular e retinopatia diabética, com destaque para novas moléculas e abordagens combinadas; inovações em transplantes lamelares e no uso de crosslinking para ceratocone, além de lentes especiais para casos de irregularidade corneana; dispositivos minimamente invasivos (MIGS) e uso de inteligência artificial para detecção precoce e monitoramento remoto da pressão intraocular na abordagem do glaucoma; integração com a reumatologia e uso de imunobiológicos para tratar a uveíte; protocolos para ambliopia, estrabismo e catarata congênita na oftalmologia pediátrica; avanços em blefaroplastia, reconstruções orbitárias e cirurgias das vias lacrimais. Essas discussões reafirmaram o compromisso da comunidade oftalmológica com a atualização contínua e a personalização do cuidado em todas as suas vertentes.

O AAO 2025 reafirmou o papel da oftalmologia como uma das áreas médicas mais dinâmicas e inovadoras da atualidade. Ao reunir ciência, tecnologia e compromisso social, o congresso apontou caminhos para um futuro em que o cuidado ocular será cada vez mais preciso, acessível e centrado no paciente. Estou certo de que o Brasil está pronto para abraçar essa nova etapa da medicina ocular.

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