O governo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, deram um prazo apertado para a Europa assumir a responsabilidade de proteger o continente sozinha. Segundo reportagem da agência de notícias Reuters publicada nesta sexta-feira, 5, com base em entrevistas com funcionários do Pentágono e diplomatas americanos, Washington quer que as nações europeias se incumbam da maior parte das capacidades de defesa convencional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) até, no máximo, 2027. O rol de funções vai desde inteligência até programas de mísseis.
Os Estados Unidos são os maiores contribuidores com o orçamento anual da Otan, ao lado da Alemanha: cada um é responsável por cerca de 16% dos fundos anuais da aliança militar ocidental (o Reino Unido fica em terceiro, com 11%). Em 2023, por exemplo, Washington destinou US$ 816,7 bilhões para gastos com defesa, segundo o Pentágono, US$ 567 milhões dos quais foram para a Otan. Naquele ano, o orçamento total foi de US$ 3,59 bilhões.
Desde seu retorno à Casa Branca, Trump vem pressionando líderes europeus a aumentarem seus gastos com defesa. Muitos países membros da aliança não cumprem com o requisito de investir 2% do PIB no setor de segurança, mas neste ano, sob pressão de Washington, concordaram em elevar o mínimo para 5% do PIB. A União Europeia também estabeleceu a meta de tornar o continente pronto para se defender até 2030, embora reconheça que precisa preencher as lacunas em áreas como defesas aéreas, drones, capacidades de guerra cibernética, munições.
As capacidades de defesa convencionais incluem ativos não nucleares, desde soldados até armas. A Reuters indicou que autoridades americanas não explicaram como progresso da Europa em direção à autonomia seria aferido.
Ultimato
De acordo com a Reuters, o prazo de 2027 foi comunicado em nesta semana durante uma reunião em Washington entre funcionários do Pentágono que supervisionam a política da Otan e várias delegações europeias.
A transferência do ônus que historicamente recaiu sobre os Estados Unidos para os membros europeus da aliança mudaria drasticamente a forma como Washington, membro fundador da Otan no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial, trabalham com seus parceiros militares mais importantes.
Na reunião, autoridades do Pentágono indicaram que insatisfação com os avanços que a Europa fez para reforçar suas capacidades de defesa desde a expansão da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Segundo a Reuters, os americanos disseram a seus homólogos que, se a Europa não cumprir o prazo de 2027, os Estados Unidos podem deixar de participar de alguns mecanismos de coordenação de defesa da Otan.
Não ficou claro, porém, se o prazo de um ano representa a posição oficial da Casa Branca ou apenas a opinião de algumas autoridades do Pentágono. Existem divergências em Washington sobre o papel militar que os Estados Unidos devem desempenhar na Europa.
Obstáculos significativos
A Reuters conversou com vários funcionários europeus que afirmaram que o prazo de 2027 não é realista, independentemente de como Washington meça o progresso, já que a Europa precisa de mais do que dinheiro e vontade política para substituir certas capacidades americanas no curto prazo.
Entre outros desafios, os membros da Otan enfrentam atrasos na produção de equipamentos militares que estão tentando adquirir. Embora autoridades americanas tenham incentivado a Europa a comprar mais artefatos bélicos fabricados nos Estados Unidos, algumas das armas e sistemas de defesa mais valiosos levariam anos para serem entregues se encomendados hoje.
Washington também contribui com capacidades que não podem ser compradas, como inteligência, vigilância e reconhecimento, que se provaram essenciais para auxiliar a Ucrânia na guerra contra a Rússia.