Israel anunciou nesta quarta-feira, 3, que a passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egito, será aberta em breve, de forma a permitir que milhares de palestinos em necessidade de atendimento médico deixem o enclave. O desbloqueio do trajeto será coordenado com o governo egípcio, sob a supervisão da missão da União Europeia (UE), como no cessar-fogo de janeiro deste ano, informou o COGAT, braço de assuntos humanitários do Ministério da Defesa israelense.
Até o início da guerra, em 7 de outubro de 2023, a Rafah era a única saída direta usada pela população pra deixar Gaza que não estava sob controle de Israel. O posto de controle, contudo, foi fechado pelas tropas israelenses em maio de 2024. A decisão de reabrir a passagem foi tomada “conforme o acordo de cessar-fogo e a direção dos escalões políticos”, de acordo com o COGAT. Ainda não há uma data precisa.
Apesar da implementação do cessar-fogo há quase dois meses, Israel manteve a via fechada em ambas as direções sob o argumento de que, antes de tudo, o Hamas deveria libertar todos os reféns, vivos e mortos, mantidos em cativeiro em Gaza. Em outubro, o grupo radical devolveu todos os sequestrados vivos em troca de cerca de 2.000 palestinos detidos e prisioneiros condenados. Na terça, os combatentes afirmaram que entregaram um dos últimos dois corpos que ainda não haviam retornado a Israel.
Segundo dados das Nações Unidas, ao menos 16.500 palestinos precisam receber cuidados médicos fora do território. Mais de 70 mil pessoas foram mortas em Gaza desde a eclosão do conflito, incluindo cerca de 300 profissionais da imprensa. O número é superior ao total combinado da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, que somaram 69 jornalistas mortos. Nas guerras do Vietnã, Camboja e Laos, foram 71; e na invasão russa à Ucrânia, que segue desde 2022, foram 19 até agosto.
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Panorama de destruição
O rastro de escombros é 12 vezes maior do que a Grande Pirâmide de Gizé, no Egito. De cada 10 edifícios que antes existiam em Gaza, oito foram danificados ou arrasados. Encurralada, restou à população de Gaza tentar fugir dos bombardeios. Mais de 1,9 milhão de pessoas, ou 90% do enclave, foram deslocadas, de acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA). Em Israel, em comparação, cerca de 100.000 pessoas tiveram de deixar suas casas.
Acredita-se que 40 mil crianças tenham perdido um ou ambos os pais, segundo o Escritório Central de Estatísticas da Palestina, que definiu a situação como “a maior crise de órfãos da história moderna”. Além disso, dados de março do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontaram que entre 3.000 e 4.000 crianças em Gaza tiveram um ou mais membros amputados. O enclave palestino tornou-se o lugar do mundo com mais menores de idade mutilados.
Em meio à escalada da violência, 22 dos 36 hospitais de Gaza fecharam as portas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Trata-se de um somatório de problemas: ataques israelenses aos prontos-socorros sob acusações de que o Hamas usava os prédios como esconderijos, uma alegação rejeitada pelos militantes; sobrecarga da equipe médica e colapso do sistema de saúde do território, reflexo do elevado número de feridos; e falta de equipamentos, medicamentos e combustível, consequência do bloqueio parcial de Israel à entrada de ajuda humanitária. Até o final de outubro, os 14 hospitais restantes funcionam de forma limitada.