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A poderosa mulher que Maduro queria deixar em seu lugar “interinamente”

Nicolás Maduro se considera esperto e tinha um plano, segundo a reconstituição de sua conversa de quinze minutos com Donald Trump. Ele deixaria o poder, mas ficaria em seu lugar, em caráter interino, a vice-presidente Delcy Rodríguez. A ela caberia conduzir a transição, com a convocação de eleições.

Adivinhem só, Trump disse não. Numa situação menos aguda, até que chegou a ser cogitado um modelo desse tipo. A vice de Maduro e seu irmão, Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional – e. estranhamente, um psiquiatra que não parece ter feito nunca um diagnóstico do narcisismo patológico do boliviariano Hugo Chávez e de seu substituto -, são operadores importantes no esquema de poder do regime. Esse momento parece ter passado desde a chegada da grande força naval americana a águas do Caribe, com a função de acabar com a era chavista, “por bem ou por mal”, nas palavras de Trump.

Se Nicolás Maduro pode ainda negociar uma saída para o exílio, tendo em vista que é de interesse dos Estados Unidos ter uma solução pacífica, outras figuras do regime precisarão enfrentar a justiça e o repúdio popular, ou ambos.

Os americanos evidentemente têm a lista completa da nata da nata do bolivarianismo, mas Maduro facilitou as coisas ao nomear um novo “burô político” com doze nomes, para que “assumam a direção do mais alto nível das forças políticas, sociais e da revolução bolivariana”.

COLEÇÃO DE GRIFES

É uma espécie de governo de emergência. O nome principal, como sempre, é Diosdado Cabello, ministro do Interior e principal operador do regime – reconhecido como tal pelos 25 milhões de dólares oferecidos pelos Estados Unidos por sua captura.

Agora, ele soma o cargo de secretário-geral do tal burô político, um motivo a mais para um futuro julgamento. O subsecretário é o mencionado Jorge Rodríguez. A mulher de Maduro, Cília Flores, foi nomeada secretária de Estratégia, o que torna um pouco mais difícil que proximamente saia do país com sua coleção de bolsas de grife, incluindo uma Chanel de 6,2 mil dólares e a Dolce & Gabanna de 3,6 mil que exibiu ao visitar o Brasil – o pessoal repara nessas coisas e deixa tudo anotadinho para usar na hora certa.

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Cília, apodada de “primeira companheira”, tem um visual incrivelmente parecido com o de Delcy Rodríguez e outras mulheres elevadas ao topo durante a era chavista: cabelos compridos alisados, óculos de grau de grifes caras, roupas que imaginam compatíveis com suas posições, incluindo muitos modelos em vermelho. Fora as bolsas, claro.

Na nova composição do poder, a vice-presidente Delcy Rodríguez foi nomeada secretária de Produção e Finanças. A advogada trabalhista que fez carreira política desde o início da era Hugo Chávez tem experiência no ramo. Atingida por sanções da União Europeia, em 2020 ela fez uma viagem à Espanha durante a qual não desceu do avião pousado no aeroporto de Barajas por não podia pisar em solo europeu. A bordo, recebeu o ministro do Turismo na época, José Luiz Ábalos, e comandou a venda de 104 barras de ouro a empresários espanhóis, no valor de 68,5 milhões de dólares. O caso ficou conhecido na Espanha como Delcygate. Cinicamente, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez classificou o pouso ilegal do avião com matrícula turca como “escala técnica”.

RUSSOS ESTÃO SAINDO

O pessoal sabe se proteger, em várias latitudes, mas o horizonte de eventos na Venezuela vai estreitando as possibilidades para as grandes figuras do regime.

A Rússia está retirando do país não apenas os turistas afetados pelo fechamento do espaço aéreo venezuelano, decretado pelos Estados Unidos, mas também outros cidadãos relacionados com a grande presença russa no país. O que acontecerá com os instrutores russos e outros militares relacionados aos equipamentos bélicos vendidos em grande escala aos bolivarianos? Possivelmente também terão salvo-conduto.

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O líder de uma organização de militares exilados, capitão Javier Nieto Quintero, disse que Rússia e Cuba participaram da “destruição institucional” na Venezuela e isso justifica uma intervenção militar estrangeira como a dos Estados Unidos.

É uma tese que evidentemente pode ser contestada, mas pesa como argumento no grande debate: têm os Estados Unidos motivos justificados para interferir na Venezuela ou é apenas um caso do uso de força condenado pelo direito internacional? O tráfico de drogas em grande escala, tal como patrocinado por Maduro e companhia, é uma justificativa legalmente válida?

Qualquer que seja a conclusão, foi uma manobra esperta a ligação do presidente Lula da Silva para pedir o levantamento das tarifas remanescentes sobre exportações brasileiras e reforçar “o combate ao crime organizado internacional”. Falar a linguagem que Trump entende sempre ajuda, embora a semiótica tenha entrado em outro patamar desde que as narcolanchas começaram a ser explodidas.

‘IMPÉRIO SELVAGEM’

E o que virá depois do desmanche na Venezuela?

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Esta é a grande questão que os Estados Unidos terão que responder. É uma responsabilidade enorme promover uma mudança de regime sem provocar o caos num país já no limite da miséria criada por 25 anos de chavismo o madurismo. Os venezuelanos entraram na lista das nacionalidades proibidas de pedir asilo no país, o que sufoca a tradicional rota de fuga.

“Império, selvagem e bárbaro, não se meta na Venezuela”, dizia Delcy Rodríguez até recentemente. Como Trump não concordou que ela assumisse a presidência numa transição aceitável para o regime, deve estar pensando em outras declarações retumbantes.

Ou talvez no que colocar na bagagem. Ela e o companheiro, Yussef Abou Nassif Smaili, considerado o braço operacional do casal na PDVSA, a estatal petrolífera de onde saíram os infindáveis bilhões que moveram o bolivarianismo E, claro, os bolivarianistas.

É justo que os venezuelanos queiram justiça para os saqueadores do país, mas o momento é muito instável para garantir que consigam isso. Maduro está fazendo o possível para fechar todas as portas. Ele acha que está mostrando força ao aparecer em compromissos públicos dançando, como se não tivesse a menor preocupação no mundo,achando talvez que, no fim, não vai dançar.

Segundo fontes do New York Times, dorme cada noite num lugar e está sob proteção total de agentes cubanos. Se der errado, planeja ele deixar a bomba na mão da vice Delcy Rodríguez?

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