O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira, 2, que ataques americanos contra alvos dentro da Venezuela começarão “em breve”, segundo informações da emissora americana CNN.
“Vamos começar a fazer esses ataques também em terra”, disse durante uma reunião de gabinete. “Sabemos onde eles moram. Sabemos onde os maus moram, e vamos começar isso muito em breve”. Em paralelo, o republicano também alertou que qualquer país ligado à venda de drogas para os EUA poderá ser atacado.
+ Quem vender drogas para os EUA pode ser atacado, não só Venezuela, diz Trump As falas seguem a escalada de pressão contra a Venezuela, que viu pesado deslocamento militar para o Caribe e mais de vinte ataques a embarcações que, segundo Washington, carregam drogas. Ao menos 83 pessoas morreram nas investidas, que fazem parte do que ficou conhecido como “Operação Lança do Sul”.
A declaração também segue relatos de que Trump deu um ultimato para que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, deixasse o país caribenho durante um telefonema. A conversa, segundo o jornal americano The New York Times , ocorreu na semana passada. A bordo do Air Force One, Trump confirmou a ligação no domingo, 31, mas não deu detalhes sobre o que foi discutindo, atendo-se a dizer: “Não diria que correu bem nem mal. Foi uma chamada telefônica.”
O recado teria sido claro: Maduro, sua família e aliados poderiam fugir desde que o fizessem imediatamente, afirmaram duas fontes familiarizadas com o assunto, sob condição de anonimato, ao Miami Herald. A proposta teria como objetivo estabelecer um governo democrático em Caracas. A discussão, contudo, logo chegou a um impasse incontornável. O líder chavista e assessores teriam concordado em entregar o controle político à oposição, mas que mantivessem o comando das Forças Armadas — um “não” para os EUA.
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O prazo do ultimato teria se encerrado na última sexta-feira, 28. No dia seguinte, pela manhã, Trump afirmou na sua rede Truth Social que as companhias aéreas deveriam considerar o espaço aéreo da Venezuela “completamente fechado”. A decisão das empresas de não sobrevoar o território venezuelano segue uma orientação da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos, emitida na semana anterior, para que os aviões evitassem a rota devido ao “agravamento da situação de segurança e ao aumento da atividade militar dentro e nos arredores” do país caribenho.
De acordo com a Reuters, Trump recusou uma série de pedidos de Maduro durante a chamada. O venezuelano disse que estaria disposto a deixar a Venezuela, desde que ele e seus familiares recebessem anistia, os EUA removessem sanções e o processo contra ele no Tribunal Penal Internacional (TPI) fosse encerrado.
Maduro também teria pedido a derrubada de sanções para mais de 100 funcionários do governo venezuelano e que a vice-presidente, Delcy Rodríguez, comandasse um governo interino antes de novas eleições.
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Tensão no Caribe
No final de outubro, o líder americano revelou que havia autorizado a CIA a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, aumentando as especulações em Caracas de que Washington quer derrubar Maduro. Fontes próximas à Casa Branca afirmam que o Pentágono apresentou a Trump diferentes opções, incluindo ataques a instalações militares venezuelanas — como pistas de pouso — sob a justificativa de vínculos entre setores das Forças Armadas e o narcotráfico.
Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles e oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura do chefe do regime chavista. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também foi acusado por Trump de ser “líder do tráfico de drogas” e “bandido”. Em paralelo, intensificam-se os ataques a barcos de Organizações Terroristas Designadas, como define o governo americano, no Caribe e Pacífico.
Há poucas semanas, militares americanos de alto escalão apresentaram opções de operações contra Caracas a Trump. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, e outros oficiais entregaram planos atualizados, que incluíam ataques por terra. Segundo a emissora CBS News, a comunidade de Inteligência dos EUA contribuiu com o fornecimento de informações para as possíveis ofensivas na Venezuela, que variam em intensidade.
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O planejamento militar ocorre em meio à crescente mobilização militar americana na América Latina e ao aumento das expectativas de uma possível ampliação das operações na região, em atos considerados como “execuções extrajudiciais” pela Organização das Nações Unidas (ONU). Além do porta-aviões, destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6.500 soldados foram despachados para o Caribe, enquanto Trump intensifica o jogo de quem pisca primeiro com o governo venezuelano.
Os incidentes geraram alarme entre alguns juristas e legisladores democratas, que denunciaram os casos como violações do direito internacional. Em contrapartida, Trump argumentou que os EUA já estão envolvidos em uma guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela, o que torna os ataques legítimos. Autoridades afirmaram ainda que disparos letais são necessários porque ações tradicionais para prender os tripulantes e apreender as cargas ilícitas falharam em conter o fluxo de narcóticos em direção ao país.
Dados das Nações Unidas enfraquecem o discurso de caça às drogas. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil — principal responsável pelas overdoses nos EUA — tem origem no México, e não na Venezuela, que praticamente não participa da produção ou do contrabando do opioide para o país. O documento também aponta que as drogas mais usadas pelos americanos não têm origem na Venezuela — a cocaína, por exemplo, é consumida por cerca de 2% da população e vem majoritariamente de Colômbia, Bolívia e Peru.
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