Está ruim o clima político em Brasília.
O governo fala em aumentar impostos.
O Congresso discursa sobre a necessidade de cortar os gastos.
Não se entendem sobre o que fazer para resgatar o país da ciclotimia, refém do baixo crescimento econômico, juros recordes e inflação crescente.
O presidente achou melhor viajar para uma reunião no exterior e o ministro da Economia resolveu entrar em férias no dia de decisão na Câmara sobre os decretos de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras.
A “urgência” na votação do pacote do IOF foi aprovada por 346 votos contra 97. Significa que 78% dos parlamentares presentes decidiram contra os interesses do governo Lula — e oito em cada dez deles são de partidos que integram a base governista.
O placar chama atenção: a quantidade de votos contra o governo (346) foi maior, por exemplo, do que o número necessário para que a Câmara aceite o pedido de impeachment de um presidente (exige-se mínimo de dois terços dos deputados, ou seja, 342 dos 513).
Há, portanto, uma tendência de veto parlamentar às iniciativas governamentais que exalem aumento da carga tributária. Em tese, isso pressupõe uma negociação governo-Congresso para fechar as contas deste e do próximo ano eleitoral.
Nesta segunda-feira (16/6), o governo pôs as cartas na mesa. O deputado José Guimarães (PT-CE), líder do bloco governista, foi claro e objetivo sobre os limites fixados por Lula e, também, sobre as expectativas no Palácio do Planalto:
• “Nós não vamos cortar gasto com aqueles que precisam do Estado brasileiro”;
• “Nós não vamos cortar gasto do Bolsa Família”;
• “Nós não vamos cortar (sic) a política de reajuste do salário-mínimo”;
• “Vossas excelências acham que este país pode suportar uma política de desoneração e de incentivos fiscais que vai chegar a quase 800 bilhões de reais?”;
• “Nós podemos até fazer gastança, mas para proteger os mais pobres, aqueles que estão lá no sertão do Nordeste precisando da proteção do Estado com os programas sociais”;
• “Jamais vamos cortar, presidente Hugo Motta, benefício daqueles que efetivamente precisam de proteção e do nosso apoio”;
• “Queremos, sim, taxar. Essa elite econômica do Brasil…”;
• “Nós temos um problema. Tem que baixar a taxa de juros. Não se justifica o Banco Central — e estou falando isso como líder do governo — manter essas altas taxas de juros. Isso é o que compromete o desenvolvimento nacional. E vossas excelências não dizem nada. A única coisa que dizem é: ‘Ah, o Galípolo está fazendo a mesma política do Campos Neto’. Vocês têm compromisso com essas altas taxas de juros. E está errado. Nós temos que reduzir, porque essa redução das taxas de juros seria fundamental num momento como esse.”
Curioso é que governo e Congresso dizem se entender sobre um caminho alternativo para redução de gastos públicos, o da reforma administrativa. É aquela reforma que há décadas tem sido esconjurada pelo Judiciário e, também, pelas entidades sindicais do funcionalismo público, sob o silêncio sorridente de governantes como Lula e Jair Bolsonaro.
O clima político em Brasília está ruim, e deve continuar assim enquanto avança o calendário das eleições de 2026. Não há risco de melhorar.