Com 45 anos de experiência na Polícia Civil de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, conhecido entre os colegas de trabalho e a imprensa como Dr. Nico, é o novo secretário de Segurança Pública do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele substitui o deputado federal Guilherme Derrite (PP), que estava na função desde janeiro de 2023 e voltou definitivamente para o posto na Câmara dos Deputados depois de relatar o projeto de lei Antifacção na Casa.
Nico, que vai comandar um efetivo de mais de 100 mil policiais militares e civis, foi delegado-geral da Polícia Civil e estava no cargo de secretário-adjunto de Segurança Pública desde o começo da atual gestão. Ele atuou por 15 anos como investigador e, em 1992, passou no concurso para o cargo de delegado. Ele participou da criação do Grupo de Operações Especiais (GOE) e do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope), quando participou com sua equipe de grandes casos com repercussão nacional.
Um dos mais emblemáticos envolveram o apresentador Silvio Santos e sua filha, Patrícia Abravanel, sequestrados em 2001. A hoje apresentadora do SBT ficou sob a mira de criminosos por quase dez dias. Posteriormente, investigadores da Polícia Civil de São Paulo iniciaram buscas para prender o bando. Um deles, Fernando Dutra Pinto, em troca de tiros, matou dois policiais: Marcos Amorim Bezerra e Tamatsu Tamaki. Ferido, o criminoso seguiu para a casa de Silvio Santos, no Morumbi, Zona Sul de São Paulo e rendeu o então apresentador e empresário. Depois de negociações para liberar o refém, que contou com a participação do então governador paulista Geraldo Alckmin, o bandido foi preso. Ele morreu semanas depois.

O agora secretário de Segurança Pública também participou da prisão do bandido Maurício Hernandez Norambuena, mentor do sequestro do publicitário Washington Olivetto, em 2002. Norambuena é chileno e atuou em grupo de extrema esquerda no Chile durante os anos de ditadura de Augusto Pinochet. O bando de Norambuena foi declarado terrorista anos depois.

Em 2005, Nico protagonizou outro caso midiático ao dar voz de prisão ao jogador argentino Leandro Desábato por ter sido flagrado pelas câmeras da TV Globo sendo racista contra o atacante brasileiro Grafite durante a partida entre Quilmes — time que defendia — e o São Paulo, no Estádio do Morumbi, pela Libertadores daquele ano. Depois de um lance em que quase foi agredido por outro jogador argentino, Grafite tentou se distanciar para evitar problemas. Foi nesse momento que Desábato se aproximou do então camisa 9 do São Paulo e cometeu o crime contra o jogador.
De terno e gravata, Dr. Nico entrou em campo ao final da partida e prendeu o zagueiro do Quilmes, que passou dois dias detido e saiu depois de pagar fiança.
Já em junho de 2020, Nico estava na equipe que prendeu o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em Atibaia, no interior de São Paulo. À época, Fabrício Queiroz estava sendo procurado por suposto esquema de “rachadinha” no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O ex-assessor do parlamentar estava em uma casa pertencente ao advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef.
Nico também é conhecido em São Paulo — e região metropolitana — por ter aberto uma rede de pizzaria, a Sala Vip. A primeira unidade no bairro do Ipiranga, zona Sul paulistana, foi construída em 1992. Desde então, o empreendimento administrado pela família atua na capital, Grande São Paulo e na Baixada Santista.
Sai um PM, entra um policial civil
A nomeação de Nico também marca a volta de um civil ao comando da pasta. Ao ser escolhido por Tarcísio em 2023, o capitão Guilherme Derrite, ex-chefe da Rota, a tropa de elite da PM paulista, tornou-se o primeiro policial militar a comandar a pasta após o fim da ditadura.
Antes de Derrite, o último policial militar a comandar a pasta havia sido o coronel Erasmo Dias, que se tornou no cargo, entre 1974 e 1979. um dos rostos mais conhecidos da repressão naquele período autoritário. Derrite sucedeu a outro militar, mas não da PM: ele assumiu o posto no lugar do general do Exército João Camilo Pires de Campos, que foi secretário da pasta durante as gestões dos governadores João Doria e Rodrigo Garcia.
A ida de Derrite para o cargo quebrou uma longa tradição de representantes do mundo jurídico no comando da pasta, que já teve como secretários, entre outros, o ex-presidente Michel Temer, o hoje ministro do Supremo Alexandre de Moraes e juristas como Miguel Reale Júnior e Antônio Cláudio Mariz de Oliveira.
Nomeação
A nomeação de Nico para o cargo de secretário foi feita nesta terça-feira, 2, no Diário Oficial do Estado. Com a mudança, o cargo de secretário-executivo da pasta passa a ser ocupado pelo coronel Paulo Maurício Maculevicius Ferreira. Oficial da reserva da Polícia Militar, com passagem pelo Corpo de Bombeiros, Maculevicius já atuava na pasta, com experiências na Subsecretaria de Gestão Corporativa e na Chefia de Gabinete.
O novo secretário disse ter recebido o convite de Tarcísio com “imensa alegria”. “Sou apaixonado por essa área. Como secretário-executivo, já participava das estratégias de combate ao crime organizado e redução dos índices criminais. Agora, quero continuar o bom trabalho e deixar o meu legado”, declarou,
A sua escolha foi elogiada por Derrite. “Nesses três anos como secretário, Nico foi o meu braço direito. Alcançamos resultados históricos e, hoje, deixo essa missão valiosa nas mãos dele”, afirmou o deputado federal.