O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou nesta terça-feira, 2, que as forças do país assumiram o controle da cidade de Pokrovsk, na Ucrânia, pouco antes de uma reunião com o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, para discutir pontos do plano de paz do presidente dos EUA, Donald Trump. O encontro ocorre uma semana após o vazamento de uma ligação entre Witkoff e o assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, na qual o americano dava conselhos ao russo sobre as negociações do acordo.
“Quero agradecer. Esta é uma direção importante. Todos nós entendemos o quão importante ela é”, disse Putin, vestido de uniforme militar, aos seus principais oficiais em vídeo divulgado pelo Kremlin. “Isso garantirá soluções para as tarefas que definimos inicialmente no início da operação militar especial (como a Rússia se refere à guerra).”
Em contrapartida, o Exército da Ucrânia negou que Pokrovsk tivesse sido capturada por Moscou, alegando que as suas tropas ainda dominavam a parte norte da cidade, estratégica para o acesso a Donetsk. Em Paris, o presidente ucraniano, Volodomyr Zelenskyy, reconheceu que a Rússia havia feito “alguns avanços e realizado diversas ações e operações ofensivas”, mas ressaltou que “nenhuma dessas operações obteve sucesso”.
No último domingo, 30, uma equipe de altos funcionários ucranianos se reuniu com autoridades americanas para tratar das revisões propostas ao plano de Trump, elaborado com ajuda dos russos e que favorecia Moscou. Ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, Zelensky disse que a versão atualizada “parece melhor”, embora tenha destacado que “ainda não acabou” e que os trabalhos continuam.
+ Ucrânia fora da Otan, Rússia de volta ao G8: entenda o polêmico plano de paz de Trump
Reunião com Witkoff
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse na terça-feira que Putin e Witkoff discutiriam os “entendimentos” alcançados recentemente entre Washington e Kiev, acrescentando que a Rússia permanecia aberta a negociações, mas insistiria em atingir os objetivos de sua “operação especial”. Esta será a sexta vez que Witkoff se reúne pessoalmente com Putin, algo que deve aumentar temores em Kiev e nas demais capitais europeias a respeito do rumo das negociações.
Em diferentes ocasiões, Witkoff irritou aliados europeus de Kiev ao atuar em favor do Kremlin após reuniões com altos funcionários russos, até mesmo com Putin. Numa chamada telefônica, revelada pela agência britânica Bloomberg, Ushakov e o oficial russo Kirill Dmitriev conversaram sobre como influenciar os americanos a promover um plano pró-Kremlin — entre eles, a redução da força militar de Kiev, a concessão de territórios à Rússia e a desistência ucraniana de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
“Bem, precisamos do máximo, não acha?”, perguntou Ushakov, segundo a transcrição. “O que você acha? Caso contrário, qual o sentido de repassar alguma coisa?”
“Não, veja bem”, respondeu Dmitriev. “Acho que vamos elaborar este documento a partir da nossa posição e eu o repassarei informalmente, deixando claro que é tudo informal. E deixarei que eles façam o que quiserem. Mas não creio que eles usarão exatamente a nossa versão, mas pelo menos será o mais próximo possível dela.”
+ Trump defende Witkoff após polêmico vazamento de ligação com Rússia
Telefonema polêmico
Em uma ligação datada de 18 de outubro, pouco depois do acordo entre Israel e Hamas entrar em vigor, Witkoff deu dicas a Ushakov sobre como melhor aproveitar o momento, de acordo com a Bloomberg. No telefonema, o enviado americano diz ao russo: “Bem, escute. Vou lhe dizer uma coisa. Acho que, se conseguirmos resolver a questão Rússia-Ucrânia, todos ficarão muito felizes”. Ushakov, então, sugere uma ligação entre Trump e Putin.
Em seguida, Witkoff orienta: “Eu faria a ligação e reiteraria que você parabeniza o presidente por essa conquista (acordo de Gaza), que você a apoiou, que você a apoiou, que você o respeita por ser um homem de paz e que você está muito feliz por ter visto isso acontecer. Então eu diria isso. Acho que, a partir disso, será uma ligação muito boa”. O republicano é conhecido por baixar a guarda quando elogiado.
“Porque — deixe-me dizer o que eu disse ao Presidente. Eu disse ao presidente que a Federação Russa sempre quis um acordo de paz. Essa é a minha crença. Eu disse ao presidente que acredito nisso. E acredito que a questão é — o problema é que temos duas nações que estão tendo dificuldades para chegar a um consenso e, quando chegarmos, teremos um acordo de paz. Estou até pensando que talvez possamos elaborar uma proposta de paz de 20 pontos, assim como fizemos em Gaza. Elaboramos um plano de paz de 20 pontos, o Plano Trump, que era composto por 20 pontos para a paz, e estou pensando que talvez possamos fazer o mesmo com vocês. Meu ponto é este…”, acrescenta ele.
O assessor russo concorda com a ideia e adianta que Putin “vai parabenizar, vai dizer que o Sr. Trump é um verdadeiro homem da paz e blá-blá-blá”. Mais tarde, Witkoff reforça o pedido: “Eu só quero que você diga, talvez apenas para dizer isso ao Presidente Putin, porque você sabe que tenho o mais profundo respeito pelo Presidente Putin”, diz.
“Talvez ele diga ao Presidente Trump: “Sabe, Steve e Yuri discutiram um plano de paz muito semelhante, com 20 pontos, e isso poderia ser algo que, na nossa opinião, poderia fazer alguma diferença. Estamos abertos a esse tipo de coisa — a explorar o que será necessário para chegar a um acordo de paz.” Agora, eu sei o que será necessário para chegar a um acordo de paz: Donetsk e talvez uma troca de territórios em algum lugar”, afirma o enviado americano.
“Mas estou dizendo que, em vez de falar assim, vamos conversar com mais esperança, porque acho que vamos chegar a um acordo. E acho que Yuri, o presidente, me dará bastante espaço e liberdade para chegar a um acordo”, continua, sendo interrompido por um “entendo” de Ushakov. “Então, se pudermos criar essa oportunidade, depois disso eu conversei com o Yuri e tivemos uma conversa, acho que isso pode levar a grandes coisas.”