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Trump nega ter ‘desejado’ ataque a sobreviventes no Caribe; Congresso sinaliza investigação

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse neste domingo, 31, que “não teria desejado” um segundo ataque a um suposto barco de narcotráfico no Caribe. O governo Trump entrou no centro de críticas bipartidárias após a imprensa americana noticiar que um bombardeio subsequente matou sobreviventes de um navio alvejado pelas tropas dos EUA em 2 de setembro.

“Vou me informar sobre isso, mas Pete disse que não ordenou a morte daqueles dois homens”, afirmou o republicano a repórteres a bordo do Air Force One, acrescentando depois de ser questionado se ordenou as explosões seguidas: “Vamos analisar isso, mas não, eu não teria desejado isso – não um segundo ataque. O primeiro ataque foi muito letal.”

Segundo o jornal The Washington Post e a emissora CNN, as forças americanas receberam uma diretiva do secretário de Defesa, Pete Hegseth, para matar todos os tripulantes da embarcação. Hegseth, por sua vez, descartou as “notícias falsas”. Após os relatos, o principal republicano e o principal democrata na Comissão de Serviços Armados da Câmara, Mike Rogers e Adam Smith, anunciaram em comunicado no último sábado, 30, que estavam “tomando medidas bipartidárias para obter um relato completo da operação em questão”.

O deputado Mike Turner, republicano de Ohio e membro da Comissão, apontou que o ataque subsequente foi “completamente alheio a tudo o que foi discutido com o Congresso”, em referência às discussões no Capitólio sobre a legalidade das operações no Caribe e Pacífico. Em entrevista à emissora CBS, ele destacou que “obviamente, se isso acontecesse, seria muito sério, e concordo que seria um ato ilegal”. O senador Tim Kaine, democrata da Virgínia, disse ao veículo que “se (o bombardeio) for verdade, configura um crime de guerra”.

Caso confirmado, o episódio configuraria uma ordem deliberada para que os militares americanos matassem pessoas a bordo. Ainda não se o porquê dos sobreviventes não terem sido resgatados, assim como ocorreu em um ataque no Caribe em outubro. Na época, dois tripulantes foram levados para terra firme e repatriados para os seus países de origem. Até o momento, ao menos 83 pessoas foram mortas em operações ordenadas por Trump no Caribe e Pacífico, parte de um suposto cerco ao narcotráfico e ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Ainda no domingo, Trump confirmou que conversou por telefonema com Maduro. Ele, contudo, não deu detalhes sobre o que foi discutido na ligação, acrescentando: “Não diria que correu bem nem mal. Foi uma chamada telefônica”.

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Organização terrorista

Na última segunda-feira, 24, os EUA designaram oficialmente o Cartel de los Soles — que, segundo a Casa Branca, é liderado por Maduro — como uma organização terrorista estrangeira. Trump também afirmou que a designação daria sinal verde ao governo para atacar bens e infraestruturas de Maduro. A decisão “traz uma série de novas opções para os Estados Unidos”, segundo Hegseth.

Há poucas semanas, militares americanos de alto escalão apresentaram opções de operações contra Caracas a Trump. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, e outros oficiais entregaram planos atualizados, que incluíam ataques por terra. Segundo a emissora CBS News, a comunidade de Inteligência dos EUA contribuiu com o fornecimento de informações para as possíveis ofensivas na Venezuela, que variam em intensidade.

O planejamento militar ocorre em meio à crescente mobilização militar americana na América Latina e ao aumento das expectativas de uma possível ampliação das operações na região, em atos considerados como “execuções extrajudiciais” pela Organização das Nações Unidas (ONU). Além do porta-aviões, destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6.500 soldados foram despachados para o Caribe, enquanto Trump intensifica o jogo de quem pisca primeiro com o governo venezuelano.

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Tensão no Caribe

No final de outubro, o líder americano revelou que havia autorizado a CIA a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, aumentando as especulações em Caracas de que Washington quer derrubar Maduro. Fontes próximas à Casa Branca afirmam que o Pentágono apresentou a Trump diferentes opções, incluindo ataques a instalações militares venezuelanas — como pistas de pouso — sob a justificativa de vínculos entre setores das Forças Armadas e o narcotráfico.

Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles e oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura do chefe do regime chavista. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também foi acusado por Trump de ser “líder do tráfico de drogas” e “bandido”. Em paralelo, intensificam-se os ataques a barcos de Organizações Terroristas Designadas, como define o governo americano, no Caribe e Pacífico.

Os incidentes geraram alarme entre alguns juristas e legisladores democratas, que denunciaram os casos como violações do direito internacional. Em contrapartida, Trump argumentou que os EUA já estão envolvidos em uma guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela, o que torna os ataques legítimos. Autoridades afirmaram ainda que disparos letais são necessários porque ações tradicionais para prender os tripulantes e apreender as cargas ilícitas falharam em conter o fluxo de narcóticos em direção ao país.

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Dados das Nações Unidas enfraquecem o discurso de caça às drogas. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil — principal responsável pelas overdoses nos EUA — tem origem no México, e não na Venezuela, que praticamente não participa da produção ou do contrabando do opioide para o país. O documento também aponta que as drogas mais usadas pelos americanos não têm origem na Venezuela — a cocaína, por exemplo, é consumida por cerca de 2% da população e vem majoritariamente de Colômbia, Bolívia e Peru.

Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na última sexta-feira, 14, revelou que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas dos Estados Unidos para matar suspeitos de narcotráfico, sem o devido processo judicial, uma crítica às ações de Trump. Em um sinal de divisão entre os apoiadores do presidente, 27% dos republicanos entrevistados se opuseram à prática, enquanto 58% a apoiaram e o restante não tinha opinião formada. No Partido Democrata, cerca de 75% dos eleitores são contra as operações, e 10% a favor.

 

 

 

 

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